
Um artigo publicado na revista Nature, na última semana, revelou que, em Marte, o som possui duas velocidades, o que causa um efeito retardado na audição.
A descoberta surgiu a partir de uma análise das cinco horas de som captadas pelos microfones do rover Perseverance, na Nasa, que pousou no planeta vermelho em fevereiro do ano passado. Os áudios foram os primeiros registros de som do planeta vermelho.
Conforme explica o professor Enos Picazzio, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, “a propagação do som em qualquer lugar depende do meio”, ou seja, mesmo aqui no planeta Terra, o som se propaga com velocidades diferentes na água e no ar.
A partir da análise dos áudios do rover, cientistas confirmaram pela primeira vez que a velocidade do som é mais lenta em Marte, viajando a 240 metros por segundo, em comparação com os 340 metros por segundo da Terra. Entretanto, o que realmente surpreendeu os pesquisadores foi quando, no mesmo meio, o som feito por laser viajou 250 metros por segundo – 10 metros mais rápido do que o esperado.
“Eles descobriram que frequências mais altas, que seriam os sons agudos, possuem uma propagação um pouquinho mais elevada do que os sons mais graves”, explica Picazzio, ao esclarecer que o fato pode ser explicado pelas diferentes condições de temperatura, pressão e composição atmosférica do planeta.
Por meio de um exemplo prático, o professor ilustra que, em Marte, “talvez não seríamos capazes de escutar ou decifrar uma música da mesma maneira que na Terra”.
De acordo com Picazzio, o achado vai ajudar cientistas a refinar o modelo conhecido da atmosfera marciana e balizar futuros experimentos envolvendo som em outros corpos do Sistema Solar.