Um grupo com mais de 1.000 mulheres cientistas se uniu para lançar a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas, nesta segunda-feira (19). O grupo tem o objetivo de ajudar a construir políticas públicas capazes de produzir garantias integrais para a vida das mulheres, em meio à pandemia de covid-19.
As cientistas destacam que a pandemia atinge de forma mais dramática as populações vulneráveis, em especial, as mulheres, e há ausência de políticas públicas voltadas a apoiá-las, neste momento de crise. “O agravamento das condições sociais, econômicas e psíquicas decorrentes da ausência de políticas públicas adequadas para a contenção da covid-19 tem esgarçado o tecido social e lançado milhares de brasileiros e brasileiras à própria sorte”, afirmam, em carta conjunta.
De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho caiu para 45,8% em 2020, a menor em 30 anos. Além disso, as mulheres sofrem com a sobrecarga de tarefas domésticas. Dados do Datafolha apontam que 57% das mulheres que passaram a trabalhar remotamente disseram ter acumulado a maior parte dos cuidados domésticos.
“A iniciativa é um chamado às autoridades de todo o Brasil, queremos mostrar que estamos aqui dispostas a ajudar. Temos conhecimento, dados e capacidade para construir esse diálogo.”
As cientistas afirmam que é preciso pensar em políticas públicas com recorte de gênero, do contrário, as desigualdades nesse sentido podem se acirrar em razão da pandemia de coronavírus.
A rede visa a atuar nos campos da saúde, violência, educação, assistência social, segurança alimentar, trabalho e emprego, moradia e mobilidade. Dentro de cada uma dessas áreas, as cientistas estão mapeando as frentes em que cada uma pode atuar para identificar a granularidade que a rede terá em todo o Brasil. A intenção é organizar por Estados e municípios.
As propostas para essas políticas já estão prontas. Há muito acúmulo de conhecimento, produção e experiências em torno desses seis temas. O objetivo é levar essas respostas para o centro do debate público, buscando uma abordagem integrada em torno das necessidades cotidianas das mulheres.
“A iniciativa é um chamado às autoridades de todo o Brasil, queremos mostrar que estamos aqui dispostas a ajudar. Temos conhecimento, dados e capacidade para construir esse diálogo”, explica ao Jornal da USP uma das participantes, a professora Lorena Barberia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Ela conclui dizendo que a intenção é ajudar a população e salvar vidas, e que o governo que estiver interessado receberá a colaboração do projeto, não importa o posicionamento político.
A Rede Brasileira de Mulheres Cientistas é um projeto aberto e está recebendo assinaturas de cientistas de todo o Brasil. Para participar é preciso entrar no site oficial da Rede.