A adição de antioxidantes de origem natural às formulações de filtros solares podem garantir uma maior proteção contra a radiação ultravioleta, mostra estudo da pesquisadora Thamires Batello Freire. Em seu doutorado Influência de antioxidantes na fotoestabilização da avobenzona (filtro UVA) e do p-metoxicinamato de octila (filtro UVB) em fotoprotetores, ela avaliou as interações entre agentes fotoprotetores e os antioxidantes resveratrol (encontrado principalmente na casca da uva) e ácido ferúlico (presente em diversas fontes naturais). O trabalho, realizado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, teve orientação da professora Maria Valéria Robles Velasco.
Em entrevista ao Jornal da USP, Thamires explica que os filtros solares são substâncias que, ao receberem as ondas eletromagnéticas da radiação solar, absorvem a energia transmitida por elas, protegendo a pele do dano solar. Eles podem apresentar mais de um componente ativo, pois alguns filtros solares são mais eficientes frente aos raios ultravioleta A (UVA) e outros aos raios ultravioleta B (UVB).
O Sol emite radiação ultravioleta, que são ondas eletromagnéticas: os raios UVB são ondas curtas, entre 290 e 320 nanômetros (nm) e mais energéticas, que atingem a epiderme (primeira camada da pele), provocando vermelhidão (eritema), queimaduras e danos diretos ao DNA, que podem levar ao surgimento do câncer de pele. Já os raios UVA são formados por ondas mais longas (entre 320 e 400 nm), com menos energia, que chegam até a derme (camada mais profunda) e podem degradar as fibras de colágeno e elastina, favorecendo o envelhecimento da pele. Além disso, os raios UVA podem ocasionar a liberação de radicais livres (moléculas reativas que podem provocar danos às células) que, ao interagirem com o DNA, também podem resultar em câncer de pele.
Os antioxidantes, geralmente utilizados em cosméticos devido a sua ação contra os sinais de envelhecimento, são substâncias capazes de proteger o organismo contra a ação de radicais livres. A pesquisa utilizou esses elementos no intuito de aumentar a eficácia e a segurança de protetores solares, que podem sofrer alterações físico-químicas devido à absorção dos raios do sol ou à presença de outros filtros, princípios ativos ou componentes do produto. “Durante os testes, nós percebemos que os antioxidantes viabilizam a absorção energética do filtro solar por mecanismos diferentes”, conta Thamires.
A interação entre filtros e antioxidantes
Nos experimentos com células de animais, Thamires trabalhou com a avobenzona (filtro UVA) e o p-metoxicinamato de octila (filtro UVB) na companhia dos antioxidantes resveratrol e ácido ferúlico. “No setor de cosméticos é comum o apelo pelo natural com a utilização de componentes de origem vegetal, como os encontrados em extratos, óleos e ceras. Isso porque os de origem animal podem provocar alergias por conterem aminoácidos que são reconhecidos como substâncias estranhas pelo corpo”, explica. Os testes foram realizados através das técnicas de Análise Térmica, Ressonância Magnética Nuclear, Ressonância Paramagnética Eletrônica e fluorimétricas (FRET e inibição da fluorescência).
A pesquisadora explica que, ao absorver a radiação ultravioleta, as moléculas dos filtros solares orgânicos ficam excitadas e os elétrons dos átomos migram para um orbital de maior energia. Ao retornar ao seu estado original, o elétron libera a energia absorvida em uma forma menos energética. Com a adição de antioxidantes às soluções, as moléculas retornam ao estado original e captam novamente a radiação, aumentando a fotoestabilização e a capacidade de absorção dos filtros analisados.
Para Thamires, a tendência do uso de filtros solares com antioxidantes deve continuar sendo seguida pela indústria de cosméticos devido ao seu uso multifuncional de proteção contra os danos causados pelos raios ultravioleta e o envelhecimento da pele. “Para isso, é necessário a publicação de mais artigos científicos que comprovem a eficácia, além do interesse de empresas do setor para a introdução dessas fórmulas no mercado”, afirma.
Câncer de pele
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em 2021, a estimativa é de que haja uma incidência de 2 a 3 milhões de casos de câncer de pele não melanoma e mais de 130 mil casos de câncer de pele melanoma no mundo anualmente. Apesar da menor incidência, o melanoma (originado nas células que produzem a melanina) é mais agressivo e responsável pela maior parte das mortes, enquanto o não melanoma possui um prognóstico melhor.
Mais informações: e-mail tbfreire@usp.br, com Thamires Batello Freire