Grande nome da dramaturgia nacional, Plínio Marcos também escreveu peças infantis

Artigo do pesquisador Sergio Manoel Rodrigues publicado na “Revista Crioula” apresenta uma análise da obra teatral infantil de Plínio Marcos

 19/01/2021 - Publicado há 4 anos

O ator, diretor, dramaturgo e jornalista Plínio Marcos é considerado referência para a história do teatro no Brasil – Foto: Ary Brandi/Reprodução

Por Margareth Artur – Portal de Revistas da USP

O ator, diretor, dramaturgo e jornalista Plínio Marcos é um dos grandes nomes da dramaturgia nacional. Polêmico e inovador, ficou conhecido pelos temas realistas e histórias com personagens de classes sociais menos favorecidas e marginalizadas no Brasil, levando para os palcos brasileiros a cultura popular. Mas o autor de peças adultas, algumas detentoras de prêmios importantes, mas vistas, muitas vezes, como obras compostas somente “por personagens marginalizadas, vocábulos de baixo calão ou temáticas recorrentes, como violência, miséria e prostituição”, também escreveu peças para crianças. Esse lado inusitado do dramaturgo é abordado em artigo do pesquisador Sergio Manoel Rodrigues, publicado na Revista Crioula. O texto apresenta um estudo sobre a obra teatral infantil de Plínio Marcos, discutindo os contextos e os “elementos da tradição e da cultura popular nesse teatro destinado a crianças”.

Rodrigues escolheu algumas peças para sua análise: As aventuras do coelho Gabriel (1965), História dos bichos brasileiros: o coelho e a onça ou Onça que espirra não come carne (1988) e Assembleia dos ratos (1989).

Plínio Marcos não era filiado a partidos políticos, mas era “o alvo preferido da repressão” e, apesar de seu teatro ser considerado subversivo e de ele ser contra a “ideologia da ditadura da época”, não houve impedimentos ou censura para suas apresentações teatrais, embora a peça As aventuras do coelho Gabriel não foi representada muitas vezes como pretendido. Entre 1970 e 1980 houve uma expansão do mercado editorial brasileiro em relação à literatura infantil e juvenil nacional, período em que grandes nomes deste segmento puderam sobreviver com sua arte.

O grupo Rendeiros Contadores de Histórias apresentando a peça infantil de Plínio Marcos que aborda as relações de poder entre bichos humanizados, Onça que espirra não come carne – Foto: Divulgação

O artigo cita obras encenadas que contribuíram para a ascensão do teatro infantil no Brasil e alguns autores de destaque como Tatiana Belinky, Chico Buarque, com Os saltimbancos, adaptação da obra dos Irmãos Grimm, e Vladimir Capella, famoso pelas adaptações das histórias de Hans Christian Andersen e Charles Perrault. Nesse período, o teatro para crianças começava a tomar um rumo diferente do espírito moralizante da época e Plínio, em suas peças infantis, trouxe à cena e ao público assuntos “da realidade social e da própria vivência infantil”, em que o foco eram a criança e seus anseios, seus medos e suas alegrias, sem deixar de lado o imaginário, o lúdico das “travessuras e brincadeiras”.

O teatro para crianças criado por Plínio é marcado pela crítica ao conflito entre opressores e oprimidos, observada na obra As aventuras do coelho Gabriel e Histórias dos bichos brasileiros: o coelho e a onça ou Onça que espirra não come carne, em que o dramaturgo faz uma alusão metafórica ao regime ditatorial brasileiro. As adaptações de fábulas sempre contavam com temas atados às “tradições populares e o questionamento ao comportamento humano”, transpondo um gênero tradicionalmente narrativo para o gênero dramático, rompendo com “a brevidade estrutural da fábula” ao introduzir atos, quadros e cenas mais longas.

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O teatro para crianças de Plínio Marcos mistura literatura e encenação, cenário onde prima a valorização da cultura popular: “teatralizando a fábula […] Plínio Marcos entra em consonância com a literatura infantil e juvenil contemporânea. Nesse contexto, é citada a atuação de Plínio como palhaço em sua juventude, que o inspirou a resgatar o mundo do circo, mostrando novos traços da cultura popular nesse teatro em que o “artista extrapola seus limites humanos e animaliza-se, como se observa em algumas atrações próprias dos picadeiros”. Também se ressalta, no estudo, a crítica à marginalidade social em Assembleia dos ratos, na oposição entre os “ratos da cidade”, como representantes de uma cultura urbana considerada superior, e os “ratos do campo”, os “sem importância”.

O artigo nos concede a oportunidade de conhecer o outro lado da dramaturgia de Plínio, em que, nas peças citadas, comprova-se sua preocupação tanto em mostrar e inserir a criança no teatro como ser social, pensante e individualizado como em enaltecer a cultura popular infantil e suas tradições de cantigas e brincadeiras como proposta “de integração e harmonia entre todos os seres, trazendo, mais uma vez, o tradicional e o popular para o ’centro da roda’”– esse é o outro lado da dramaturgia de Plínio Marcos, que vale a pena ser conhecida.

Artigo
RODRIGUES, S. M. Representações da tradição e da cultura popular no teatro para crianças de Plínio Marcos. Revista Crioula, São Paulo, n. 25, p. 330-343, 2020. ISSN: 1981-7169. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1981-7169.crioula.2020.170463. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/crioula/article/view/170463. Acesso em: 05 nov.2020.

Contato
Sergio Manoel Rodrigues – Pós-doutorando do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP


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