Obrigações sociais reduzem os períodos de sono, o que pode levar a problemas de atenção e concentração, além de mudanças abruptas nos horários de dormir e sonolência, fenômeno que é conhecido como “jetlag social”- Foto: Faisal Akram via Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0
![](https://jornal.usp.br/wp-content/plugins/advanced-wp-columns/assets/js/plugins/views/img/1x1-pixel.png)
.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/plugins/advanced-wp-columns/assets/js/plugins/views/img/1x1-pixel.png)
.
A falta de sono no dia a dia também pode causar problemas de atenção e concentração em pessoas aparentemente saudáveis, fenômeno conhecido como “jetlag social”, comprova pesquisa com participação da Escola Politécnica (Poli) da USP. Em testes realizados com estudantes, o desempenho em tarefas simples que exigem controle dos movimentos do corpo era melhor às segundas-feiras, após as horas de sono compensadas no final de semana. A descoberta pode ajudar a entender quais as áreas do cérebro são afetadas pela privação de sono, comprometendo o controle corporal.
O professor Arturo Forner Cordero, que coordenou a pesquisa, conta que o Laboratório de Biomecatrônica da Poli estuda a modelagem do controle motor humano para a aplicação em robôs e exoesqueletos. “Para isso, são realizadas experiências de controle motor, como, por exemplo, simular tarefas de aprendizado, controle dos movimentos das mãos, em caminhadas e de postura”, diz. “Esses testes costumam ser realizados com alunos de graduação. Em determinados períodos, como no final dos semestres letivos, porém, o desempenho dos estudantes era ruim e não havia ideia do motivo.”
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2018/06/20180625_01_postura.png)
Os pesquisadores realizaram um experimento com alunos do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, em Barbacena. “Os estudantes utilizaram durante nove dias um actímetro, um relógio de pulso que mede a atividade física e distingue os períodos de sono, repouso, vigília e atividade, os quais são registrados em um gráfico”, explica o pesquisador Guilherme Umemura, que integrou o grupo de estudos. “Também foram aplicados questionários sobre hábitos diários, para complementar a avaliação sobre restrições de sono.”
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2018/06/20180625_03_postura.png)
Nas sextas e segundas-feiras foram realizados testes de controle postural. “Os participantes eram instruídos a ficarem em cima de uma plataforma e eram submetidos a vários desafios estáticos e dinâmicos, como abrir e fechar os olhos”, diz Umemura. “O corpo humano, quando está em pé, nunca está totalmente parado, ele se movimenta em várias direções, e isso envolve mecanismos de controle do cérebro, como os da visão e da audição, por isso é importante o controle postural”, explica o professor.
“Jetlag” social
Os experimentos mostraram que o desempenho no controle postural era melhor na segunda-feira, depois do final de semana. “Acredita-se que as obrigações sociais reduzem os períodos de sono, o que pode levar a problemas de atenção e concentração, além de mudanças abruptas nos horários de dormir e sonolência. Esse fenômeno é chamado de ‘jetlag social’”, aponta Umemura.
“Nos finais de semana, em geral há uma compensação das horas de sono e, coincidentemente, o desempenho nos testes era melhor”, ressalta o pesquisador. “As comparações entre as respostas dos questionários e os gráficos de atividade e repouso revelaram uma diferença de aproximadamente duas horas entre o tempo de sono considerado ideal pelos alunos e a quantidade de sono apurada nos gráficos.”
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2018/06/20180625_04_postura.png)
De acordo com o professor, a hipótese para explicar o problema é que as áreas do cérebro mais sensíveis à privação do sono são as responsáveis pela cognição e pela integração sensorial. “Essas áreas são o córtex pré-frontal, responsável pela cognição e o planejamento motor; o tálamo, que da integração sensorial, que teria sua atividade diminuída”, descreve, “e o cerebelo, que faz o controle em tempo real do movimento; em resumo, todos esses processos possivelmente estão envolvidos no déficit motor.”
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2018/06/20180625_02_postura.png)
Forner Cordero alerta que é surpreendente encontrar problemas de controle postural em pessoas jovens e saudáveis, mas que não percebem a privação de sono. “Este não foi um estudo em que as pessoas ficam sem dormir, elas pensam que estão dormindo bem, mas a diferença no controle postural é significativa”, ressalta. “Também não são pessoas com restrições declaradas de sono, como trabalhadores de turnos. O estresse na qualidade e na quantidade do sono possivelmente traz malefícios ainda piores, como o aumento do risco de quedas, acidentes laborais e de trânsito.”
O estudo é descrito no artigo Social jetlag impairs balance control. Escrito por Guilherme Silva Umemura, João Pedro Pinho, Bruno da Silva Brandão Gonçalves, Fabianne Furtado e Arturo Forner Cordero, o texto foi publicado na revista Scientific Reports em 21 de junho. Além dos testes relatados no estudos, outros experimentos para avaliar desempenho motor e aprendizagem em pessoas com restrições de sono estão em andamento.
Mais informações: e-mail aforner@usp.br, com o professor Arturo Forner Cordero