Os pontos críticos se concentram próximos aos Polos Geradores de Viagens (PGV), empreendimentos e construções (shopping centers, hospitais, templos religiosos, arenas esportivas e grandes condomínios) que demandam elevada circulação de veículos e de pessoas e que impactam negativamente no sistema viário. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Engenheira analisa locais onde há maior índice de atropelamentos em São Paulo

Regiões mais afetadas no centro expandido são os distritos da Sé, do Belém, do Bom Retiro, do Brás, do Cambuci e da República

 24/02/2023 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 28/02/2023 as 15:40

Texto: Ivanir Ferreira

Arte: Joyce Tenório

Pesquisa da USP investigou a influência de fatores sobre a incidência de atropelamentos que ocorrem na cidade de São Paulo envolvendo principalmente pedestres. Os pontos críticos de acidentes de trânsito são os distritos da Sé, do Belém, do Bom Retiro, do Brás, do Cambuci e da República, regiões onde se concentram os Polos Geradores de Viagens (PGV), empreendimentos e construções (shopping centers, hospitais, templos religiosos, arenas esportivas e grandes condomínios) que demandam elevada circulação de veículos e de pessoas e que impactam negativamente no sistema viário.

A dissertação de mestrado foi apresentada na área de Engenharia de Transportes, da Escola Politécnica (EP) da USP, e foi baseada em números de atropelamentos fornecidos pela Companhia de Engenharia de Tráfico (CET) referentes aos anos de 2017 e 2018.

A autora do trabalho, a engenheira Ruth Otamária da Silva Aires, explica ao Jornal da USP que o objetivo foi identificar os problemas que estariam envolvidos nestes acidentes de trânsito. Os resultados do trabalho serão em breve apresentados à CET como proposta de auxílio na sugestão de ações para segurança viária e diminuição de atropelamentos, como implantação de ciclofaixas, semáforos de pedestres, readequação de retornos, entre outros. Segundo o estudo, os pedestres representam o maior número de vítimas fatais de acidentes na cidade de São Paulo.

Ruth Otamária da Silva Aires, engenheira responsável pela pesquisa. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução
Fonte: CET-SP

Na Figura 1, o estudo mostra a evolução temporal, de 2016 a 2018, do número de atropelamentos que ocorreram na cidade de São Paulo.

A área delimitada para estudo foi o centro expandido da capital paulista, região onde estão localizadas as vias de maior fluxo de veículos da cidade e também onde se concentra a maior parte dos serviços de saúde, educação, cultura, transportes e segurança pública – e onde estão os distritos com maior índice de atropelamentos.

Fatores que favorecem os atropelamentos

Segundo o estudo, o ambiente construído no entorno das vias tem grande influência na ocorrência de atropelamentos nas metrópoles, pois afeta o fluxo de veículos e a circulação de pessoas. Para descobrir os fatores que estariam favorecendo estes eventos, com ferramentas de análise espacial, a engenheira verificou os distritos de São Paulo onde ocorriam os maiores números de atropelamentos, para, em seguida, aplicar um índice (cálculo) para identificar os fatores contribuintes de cada distrito e que poderiam estar influenciando na quantidade de acidentes daquelas regiões. A ferramenta utilizada para essa análise foi o Índice de Ambiente Construído (IAC), que tem como base cinco parâmetros e/ou dimensões:

Densidade (atropelamento por hectares);

Diversidade (PGV por hectare);

Distância ao transporte público (distância do local do atropelamento ao transporte público);

Destinos acessíveis (distância do local do atropelamento ao PGV mais próximo);

Desenho urbano (perímetro da quadra).

Segundo a engenheira, o índice (IAC) foi criado pela arquiteta e urbanista Elisabeth Poubel Grieco e adaptado para avaliação de segurança viária em seu trabalho.

“Quanto mais dimensões os distritos analisados fossem enquadrados pelo IAC, mais negativas seriam suas características urbanas para segurança viária”, diz a pesquisadora. Aplicado esse índice, os distritos da Sé, da Mooca, do Belém, do Bom Retiro, do Brás, da República e do Cambuci obtiveram mais zonas críticas para acidentes de trânsito, sendo classificados para quase todas as dimensões e ou parâmetros do IAC.

Polos Geradores de Viagens

No Brasil, cada município tem regras específicas para determinar ou classificar um PGV. Em Curitiba, por exemplo, considera-se PGV as edificações com área construída a partir de 5 mil metros quadrados (m2) em regiões comerciais. Em São Paulo, o critério é o número de vagas de garagem: edificação comercial que possui mais de 80 vagas de estacionamento e está localizada nas áreas especiais de tráfego (locais com maior fluxo de veículos e pessoas); edificação comercial que possui mais de 200 (duzentas) vagas de estacionamento nas demais áreas da cidade; e edificação que apresente mais de 120 vagas de garagem e está localizada em áreas residenciais.

Vias com maiores densidades de atropelamentos na cidade

Com os resultados em mãos, a pesquisadora montou mapas tridimensionais para melhor demonstrar as regiões mais afetadas:

Distrito da Sé

No distrito da Sé, os maiores relevos (na cor vermelha) indicando densidade maior de atropelamento ficaram para o Vale do Anhangabaú, o Viaduto Dona Paulina e a Avenida do Estado. As cores marrom e laranja tingiram as avenidas Mercúrio e a Vinte e Três de Maio; as ruas Hercules Florence, Fernão Sales e a Conde de Sarzedas, além do viaduto do Glicério.

Estimativa de densidade de atropelamentos na rede viária no distrito da Sé, anos 2017 e 2018 - Fonte: Ruth Otamária da Silva Aires

Distrito de Belém

O laranja e o marrom, indicando média densidade de acidentes, tingiram as avenidas Castelo Branco, a Celso Garcia e a Álvaro Ramos; as ruas Engenheiro Reynaldo Cajado, a Serra de Jaire, a Dr. Carlos Botelho, a Nelson Cruz, a Siqueira Bueno e a Vinte e Um de Abril.

Estimativa de densidade de atropelamentos na rede viária no distrito de Belém, anos 2017 e 2018 - Fonte: Ruth Otamária da Silva Aires

Distrito do Bom Retiro

No Bom Retiro, a prevalência dos picos foi em marrom nas avenidas Presidente Castelo Branco, a do Estado e a Tiradentes, além das ruas Mauá e Prates.

Estimativa de densidade de atropelamentos na rede viária no distrito do Bom Retiro, anos 2017 e 2018 - Fonte: Ruth Otamária da Silva Aires

Distrito do Brás

No Brás, os picos também em marrom ficaram nas avenidas Celso Garcia e nas ruas do Hipódromo, na Barão de Jaguará, na Mooca, na Miller, na Wandenkolk, na Coimbra, na Benjamim de Oliviera, na Polignano A. Mare, na Assunção e na Visconde de Parnaíba.

Estimativa de densidade de atropelamentos na rede viária no distrito do Brás, anos 2017 e 2018 - Fonte: Ruth Otamária da Silva Aires

Distrito da República

Já no distrito da República, a cor vermelha voltou a identificar altos índices de atropelamentos na Avenida Prestes Maia, nas ruas Brigadeiro Tobias, da Consolação e na Santo Antônio. As cores marrom e laranja apareceram nas avenidas Duque de Caxias e Prestes Maia.

Estimativa de densidade de atropelamentos na rede viária no distrito da República, anos 2017 e 2018 - Fonte: Ruth Otamária da Silva Aires

Distrito do Cambuci

No Cambuci, os picos, em laranja e marrom, ficaram nas avenidas Lacerda Franco, Leopoldo Miquez, Presidente Wilson e a do Estado e nas ruas Coronel Diogo, Barão de Jaguara, Silveira Mota, Inglês de Sousa e Anhatomirim.

Estimativa de densidade de atropelamentos na rede viária no distrito do Cambuci, anos 2017 e 2018 - Fonte: Ruth Otamária da Silva Aires

Para a engenheira, os resultados desse trabalho serão importantes no sentido de auxiliar as autoridades públicas quanto ao planejamento de políticas públicas de prevenção de acidentes de pedestres nas grandes cidades.

Mais informações: e-mail ruthaireseng@gmail.com, com Ruth Otamária da Silva Aires

 

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