Em SP, cresce risco de câncer de boca associado ao vírus HPV, aponta estudo

Pesquisa recomenda monitoramento do impacto do câncer em homens e mulheres jovens, devido à tendência de aumento do número de novos casos

 29/06/2020 - Publicado há 4 anos
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Estudo realizado a partir dos dados sobre 15 mil casos contabilizados entre 1997 e 2013 revela que o risco do câncer de boca e orofaringe em locais associados ao papilomavírus humano (HPV) aumentou entre homens e mulheres jovens na cidade de São Paulo – Arte sobre cartaz Alep /Jornal da USP

Na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, pesquisa revela que o risco de câncer de boca e orofaringe em locais associados ao papilomavírus humano (HPV) aumentou entre homens e mulheres jovens na cidade de São Paulo. O estudo, realizado a partir dos dados sobre 15 mil casos contabilizados em São Paulo, entre 1997 e 2013, também indica uma queda do número de casos em localizações relacionados ao uso de tabaco, embora ainda sejam comuns entre pessoas com mais de 40 anos, de baixa renda. A pesquisa sugere o monitoramento do impacto do câncer em locais relacionados ao HPV na boca e orofaringe em homens e mulheres jovens, com idade até 39 anos, devido à tendência de aumento do número de novos casos desse grupo, além de ações focadas na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis.

Fabrício dos Santos Menezes: monitoramento do impacto e ações de prevenção – Foto: Acervo pessoal

“Em alguns países, estudos laboratoriais e epidemiológicos apontaram uma possível epidemia viral no câncer de cabeça e pescoço relacionado ao HPV”, afirma Fabrício dos Santos Menezes, responsável pela pesquisa. “A pesquisa investigou as tendências de incidência de locais onde ocorrem câncer de boca e orofaringe (sítios anatômicos) relacionados à infecção pelo HPV, cuja situação epidemiológica no Brasil ainda não está bem esclarecida.”

O HPV é um vírus sexualmente transmissível, e se estima que ele cause 630.000 novos casos de câncer por ano no mundo. “No câncer de boca e orofaringe, mais especificamente orofaringe, tonsila [amígdala] e base da língua, o HPV16 foi identificado em até 60% dos tumores nos Estados Unidos, e existe um aumento gradual da detecção desse vírus no Brasil”, aponta o pesquisador.

De acordo com Menezes, estudos evidenciaram que os pacientes com câncer de orofaringe apresentavam características epidemiológicas, clínicas e moleculares únicas. “E a partir dos resultados de diversas pesquisas, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) reconheceu o papel carcinogênico do HPV 16 no câncer de orofaringe e base da língua”, acrescenta.

Registro de Câncer
O estudo foi desenvolvido a partir do Registro de Câncer de Base Populacional do município de São Paulo (RCBP-SP). “Foram analisados os dados de 15.391 pacientes diagnosticados com câncer de boca e orofaringe, considerando o período prévio à implementação da vacina do HPV na cidade de São Paulo, entre os anos de 1997 e 2013”, relata o pesquisador. Assim, foi investigado se existiam diferenças nas tendências de incidência entre os locais relacionados ou não ao HPV no câncer de boca e orofaringe, assim como os efeitos da idade, do período e da coorte de nascimento.

A pesquisa identificou um aumento no risco de câncer de boca e orofaringe relacionado ao HPV em mulheres e homens jovens (com 39 anos ou menos), enquanto esse risco se reduziu nas localizações anatômicas mais associadas ao uso do tabaco. “Embora os resultados não indiquem uma epidemia viral na cidade de São Paulo, com proporções similares aos Estados Unidos e Singapura, eles destacam um aumento dos novos casos de câncer de boca e orofaringe relacionados ao HPV.”

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“Em geral, o perfil mais observado ainda é de pacientes com idade superior aos 40 anos, de baixa renda e que usam álcool e tabaco, mas o estudo mostra que isso está mudando”, destaca o pesquisador. “Por essa razão, existe a necessidade de se monitorar o impacto desses cânceres também em populações jovens, sendo essenciais para esse grupo as ações para a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis.”

Segundo Menezes, a redução dos cânceres de boca e orofaringe relacionados ao uso de tabaco possivelmente ocorreu devido ao reconhecido sucesso das políticas de controle do tabaco no Brasil. “Sobre o aumento do risco em sítios anatômicos relacionados ao HPV, os dados são compatíveis com estudos laboratoriais realizados em São Paulo, que encontraram um aumento gradual na presença do HPV de alto risco em cânceres de cabeça e pescoço, com a identificação do vírus em até 59,1% dos pacientes em um hospital privado”, observa. “Os resultados da pesquisa possivelmente são explicados pela mudança nos comportamentos sexuais, pois a infecção pelo HPV na boca e orofaringe ocorre com frequência em pessoas com múltiplos parceiros sexuais e que fazem sexo oral.”

A pesquisa foi desenvolvida durante o doutorado de Fabrício dos Santos Menezes, professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), com orientação da professora Tatiana Natasha Toporcov. Além disso, o estudo teve a colaboração dos professores Maria do Rosário Dias de Oliveira Latorre, Gleice Margarete de Souza Conceição, Maria Paula Curado e José Leopoldo Ferreira Antunes. O trabalho envolveu o Departamento de Epidemiologia da FSP, o RCBP, a UFS (Campus Lagarto), em Sergipe, o A.C. Camargo Cancer Center e o International Prevention Research Institute, na França.

Mais informações: e-mail fabriciomenezes@msn.com, com Fabrício Santos Menezes


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