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Em um estudo publicado na última semana na revista Nature Climate Change, cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, revelaram que a corrente oceânica conhecida como Circulação de Revolvimento Meridional, ou AMOC na sigla em inglês, seria menos afetada pelo derretimento das calotas polares no Hemisfério Norte do que se imaginava.
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De acordo com a professora Ilana Wainer, do Instituto Oceanográfico da USP, a conclusão do novo estudo é positiva para o planeta. “A Circulação Meridional é a contribuição dos oceanos para redistribuir o excesso de calor que a gente recebe nos trópicos por conta do sol e o déficit de calor que existe nas regiões polares”, explica a professora.
Antes da nova constatação, a maioria das simulações do futuro do nosso clima considerava que a AMOC poderia ser bastante sensível ao derretimento do gelo do Ártico, o que causaria mudanças abruptas na circulação oceânica.
Para Ilana, que já trabalhou com modelos utilizados pelos autores do artigo, o resultado é “espetacular”. “Ele foi pioneiro tentando prescrever esses fluxos de degelo desde o último máximo glacial e teve muito sucesso”, opina.
Derretimento das calotas
Em linhas gerais, a corrente do Oceano Atlântico atua como uma faixa transportadora que move as águas tropicais quentes da superfície para o norte e as águas mais frias e mais profundas do sul. Ela é uma das chaves usadas para prevermos futuros desastres climáticos, principalmente quando o assunto envolve o aquecimento global e o derretimento das calotas.
No entanto, com base em trabalhos anteriores, pesquisadores estão revisando sua compreensão da relação entre a AMOC e a água doce do derretimento do gelo polar.
A injeção de água doce do possível derretimento polar provavelmente “mudaria a densidade do oceano, já que a água doce é menos densa. Então, você estratifica e forma a água profunda que é o que compõe a AMOC. Ela vai até profundidades menores e com menos intensidade, por isso você não conseguiria fazer essa transferência de calor de uma forma tão vigorosa e tão eficiente”, explica.
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No artigo, os pesquisadores descreveram um novo modelo de simulação que corresponde ao calor dos últimos 10 mil anos. E eles fizeram isso eliminando o gatilho que a maioria dos cientistas acredita que paralisaria a AMOC.
“Esse estudo está mostrando que as consequências não seriam tão catastróficas assim”, salienta a especialista ao revelar que, no novo modelo, embora o registro climático mostre uma abundância de água doce que veio do derretimento final das camadas de gelo na América do Norte e na Europa, a AMOC quase não mudou. E isso é particularmente importante para os modelos climáticos que avaliam como a AMOC responderá aos futuros aumentos de água doce do derretimento do gelo.
Ainda que a corrente seja mais resiliente do que se pensava, a professora alerta que os eventos climáticos extremos já são uma realidade e exigem atenção: “Já estamos em um cenário quase irreversível do aquecimento global, do aumento do nível do mar e de eventos extremos. Temos que parar de emitir gases de efeito estufa e parar de usar uma matriz energética baseada em combustíveis fósseis. As consequências são inúmeras não só para a AMOC, mas para a biodiversidade e para os ecossistemas”, finaliza a docente.