Nos países de baixa e média rendas, o consumo de álcool tem aumentado consideravelmente, o que conduz a resultados desastrosos para a saúde, interferindo negativamente também no ambiente social. Consumir bebidas alcoólicas é uma prática comum entre estudantes universitários, fato marcado “pela frequência e volume elevados”. Alguns se surpreendem ao saber que o álcool é a droga legal mais usada no Brasil, consumida por quase 70% da população, segundo o artigo publicado na Revista de Medicina. O estudo que ele apresenta teve como objetivo “estimar a prevalência do consumo de álcool e a influência de gênero e ano letivo entre estudantes de Medicina de Volta Redonda”, no município da Mesorregião do Sul Fluminense.
Para essa pesquisa, os autores avaliaram o consumo de álcool nos últimos 12 meses, com questões que analisaram quantidade e frequência do consumo da bebida; sintomas da dependência; e as consequências negativas do hábito nos universitários do curso de Medicina. O resultado computou o consumo de bebidas alcoólicas em 81,1%, informando também que, tanto para os homens quanto para as mulheres, o hábito de beber aumenta à medida que o curso avança. Os autores observaram que a prática de beber em grande quantidade foi superior nos homens em comparação às mulheres, e que onde mais se bebe, no caso brasileiro, é nas festas realizadas em faculdades, já que lá os alunos encontram uma boa oferta de bebidas alcoólicas.
As razões que levam os alunos de Medicina a interessarem-se por bebida começa com a vontade de adquirir novas experiências, contestar e “transgredir […] como parte da construção da identidade”. Muitos estudiosos enxergam, quando do ingresso na universidade, o desejo de independência dos alunos e, ao mesmo tempo, muitos destes últimos veem na bebida um “remédio” para solidão e depressão, por estarem longe dos familiares, e outros, para amenizarem “o peso das cobranças impostas pela vida acadêmica, a competitividade e as expectativas individuais”.
A prática do “beber pesado episódico (BPE)” é definida pelos autores como tomar cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas em uma única ocasião, independente da frequência de consumo diário, na semana ou no mês, ou até mesmo da embriaguez – o que acontece mais acentuadamente com os homens. O artigo destaca também que o elevado nível de consumo em uma única ocasião tem sido associado a baixo desempenho nas atividades, doenças sexualmente transmissíveis, danos materiais, violência e consequências criminais. Os que fazem um uso sem limites do álcool têm dificuldades em cumprir as tarefas de rotina e envolvem-se em violência, apesar das tentativas de ajuda de parentes e profissionais da saúde.
Tendo em vista que a educação é um processo ativo que deve estimular uma atitude crítica e reflexiva, numa interação permanente com a realidade, ressalta-se a necessidade da criação de programas que possam interagir e mediar a educação, estabelecendo-se medidas de combate ao uso do álcool pelos estudantes do curso de Medicina. Concluindo, os autores afirmam que “para que uma estratégia cumpra seu papel transformador, deve-se contextualizar o problema (…) visando a elaboração de estratégias de prevenção bem-sucedidas e duradouras”, esperando que os resultados obtidos até agora contribuam para aprofundar futuras pesquisas sobre a questão.
Mais informações: e-mail leo_silveiragomes@hotmail.com, com Leonardo Silveira Gomes
GOMES, Leonardo Silveira et al. Consumo de álcool entre estudantes de medicina do Sul Fluminense – RJ. Revista de Medicina, São Paulo, v. 97, n. 3, p. 260-266, jul. 2018. ISSN: 1679-9836. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v97i3p260-266. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/143559/141863>. Acesso em: 30 jul. 2018.
Margareth Artur / Portal de Revistas da USP