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Cientistas definem local de observatório que rastreará fontes de raios gama no Universo
Com participação de pesquisadores da USP, projeto que investiga emissões de raios gama de muito alta energia anunciou construção de observatório no Parque Astronômico do Atacama, no Chile
O Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), sediado no Rio de Janeiro, recebeu nos dias 30 e 31 de julho os representantes dos 15 países que formam a colaboração Southern Wide-field Gamma-ray Observatory (SWGO), cujo objetivo é observar as fontes de raios gama de muito alta energia do Universo, da qual o Brasil faz parte como um dos membros fundadores, com participação de pesquisadores da USP. Nesse encontro foi definida a localização do sítio onde o Observatório será construído: Pampa la Bola, um extenso planalto a 4.770 metros (m) de altitude, dentro do Parque Astronômico do Atacama (AAP), no norte do Chile.
O estudo das fontes de raios gama é fundamental para o avanço das pesquisas sobre a formação e a estrutura do Universo, inclusive a respeito da matéria escura, que é a parte não visível do Cosmos, cuja existência é intuída de forma indireta por meio dos efeitos gravitacionais que exerce na matéria visível. A construção do observatório, que deve começar a partir de 2026, prevê o comissionamento de até cinco mil detetores Cherenkov, tanques de água ultra limpa equipados com fotossensores de alta sensibilidade para detectar a luz Cherenkov, que é produzida pelas partículas geradas quando raios gama energéticos de origem cósmica interagem com a atmosfera terrestre. A instalação do SWGO no AAP, que já abriga uma série de observatórios astronômicos internacionais, se beneficiará da excelente infraestrutura local, reduzindo ao mínimo os riscos associados à construção e operação de um projeto da magnitude do SWGO.
No Brasil, o projeto tem sido desenvolvido com liderança do CBPF, no Rio de Janeiro, em estreita colaboração com o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, onde o físico Ulisses Barres, um dos responsáveis internacionais do SWGO, atua como pesquisador colaborador junto ao grupo da professora Elisabete de Gouveia Dal Pino. “A escolha do local do observatório representa um passo fundamental para o projeto, permitindo à colaboração iniciar os esforços na direção da preparação para a construção do SWGO, onde a parceria com a USP e agências de fomento será fundamental”, afirma.
Amplo campo de visão
“Quando operacional, o SWGO será o primeiro observatório de raios-gama de amplo campo de visão do Hemisfério Sul, de onde terá acesso privilegiado ao plano e ao centro da nossa galáxia”, comenta a professora Elisabete de Gouveia Dal Pino, professora do IAG e a nova escolhida para representar o Brasil junto ao Conselho Diretor do SWGO na sua fase preparatória. “Isso permitirá o estudo dos processos astrofísicos responsáveis pela produção da radiação eletromagnética mais energética do Universo.”
O SWGO irá integrar uma nova rede internacional de observatórios de raios gama planejados para entrar em operação ainda nessa década. Entre eles estão o ASTRI Mini-Array, liderado no Brasil pela professora Elisabete de Gouveia Dal Pino e construído com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que está em construção em Tenerife, nas Ilhas Canárias, e cuja operação está prevista para 2025; e o Cherenkov Telescope Array Observatory (CTAO), onde Barres de Almeida e a professora do IAG estão entre os principais pesquisadores brasileiros, como parte de um grande contingente de participação nacional, particularmente através de recursos da Fapesp.

Pesquisadores em frente ao protótipo do detector Cherenkov, desenvolvido pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) para o projeto; quando concluído, o observatório deverá receber até 5 mil detectores, espalhados por uma área de cerca de um quilômetro quadrado (km2) – Foto: Tatiana Azzi, CBPF/NCS.
Durante a fase de pesquisa e desenvolvimento, o projeto dos detectores Cherenkov do SWGO foi financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Participam ainda da colaboração brasileira no SWGO o Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, o Instituto Federal Fluminense (IFF) e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), além de pesquisadores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e da Universidade Federal da Bahia (UFB). Leia a íntegra da nota publicada pelo SWGO sobre a decisão tomada no CBPF neste link.
Mais informações: e-mail dalpino@iag.usp.br, com a professora Elisabete de Gouveia Dal Pino
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

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