Margareth Artur/Portal de Revistas da USP
Texto publicado na revista Discurso, do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, revela-nos importantes depoimentos sobre a presença do filósofo francês Michel Foucault na USP, em 1965, e também em 1975, colhidos pelos pós-graduandos Ricardo Parro e Anderson Lima da Silva. Os seminários realizados no Brasil em 1965 pelo filósofo basearam-se em seus manuscritos que, mais tarde, resultariam na publicação do livro As palavras e as coisas, obra que o consagrou internacionalmente. Dentre os professores e alunos presentes em suas conferências destacam-se Marilena Chauí, Maria Lúcia Cacciola, Maria Beatriz Nizza da Silva, Franklin Leopoldo e Silva, Paulo Arantes e José Arthur Gianotti, entre outros.
Em 1975, Michel Foucault voltava ao Departamento de Filosofia da FFLCH, época em que o País estava em plena ditadura militar, e essa unidade acabou sendo transferida para onde é hoje a Cidade Universitária. O texto ressalta a atuação de Foucault na política nacional. Solidarizando-se aos protestos contra as prisões de jornalistas, estudantes e professores da USP, suspendeu suas aulas na Universidade.
Nessa ocasião, o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado sob tortura nas dependências do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna – DOI-Codi, órgão repressivo subordinado ao Exército, inaugurado com o golpe militar de 1964. Agentes do serviço diplomático francês protegeram Foucault em sua participação no ato ecumênico em homenagem a Herzog, tendo conhecimento que o intelectual estava sendo perseguido. Sobre esse assunto, o artigo aborda o pronunciamento do filósofo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, resgatado pelos autores junto ao Serviço Nacional de Informações (SNI) no Arquivo Nacional.
O artigo também destaca que os professores presentes nas conferências do filósofo revelam um Foucault simples e divertido, brilhante professor que apoiou publicamente a resistência contra a ditadura, participando dos movimentos Tortura Nunca Mais, Justiça e Paz, de discussões sobre repressão aos homossexuais e dando apoio ao incipiente feminismo brasileiro.
Ressalta-se também alguns dos principais trechos do documento do SNI, órgão criado em 1964, traduzindo a postura do intelectual atrelado à realidade social: “Uma universidade que não é plenamente livre não passa de uma empresa de servilidade. A Universidade de São Paulo saiba que sua luta de hoje relaciona-se à luta pela liberdade em todos os países do mundo“. Por fim, os autores reproduzem cartas que retratam os encontros e desencontros entre Foucault, o departamento e o consulado francês relativos à vinda do filósofo em 1975.
Ricardo Parro – Pós-graduando do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. ricardoaparro@gmail.com
Anderson Lima da Silva – Pós-graduando do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. anderson.aparecido.silva@usp.br
Com a colaboração do corpo editorial da revista Discurso.
PARRO, Ricardo; SILVA, Anderson Lima da. Michel Foucault na Universidade de São Paulo. Discurso, São Paulo, v. 47, n. 2, p. 205-223, dez. 2017. ISSN: 2318-8863. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/discurso/article/view/141441/136461. Acesso em: 12 abr. 2018.
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