Com o objetivo de ampliar suas pesquisas, o Laboratório de Fisiopatologia do Envelhecimento, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) aumentou suas instalações. Além de cérebros humanos, o biobanco do laboratório passa a receber doações de outros tecidos – muscular, cardiovascular, pulmonar e rim.
Embora o crescimento da expectativa de vida da população nos últimos anos seja uma conquista, esse avanço tem trazido desafios para a área de pesquisa médica. A prevalência de doenças neurodenegerativas, como Alzheimer e Parkinson, por exemplo, demandam mais estudos relacionados ao envelhecimento.
As doenças neurodegenerativas acometem, na maior parte das vezes, pessoas em idade avançada (a partir dos 65 anos, havendo evidências que alguns sinais possam surgir bem antes) evoluindo progressivamente até levar à morte. Não há cura e as causas ainda são desconhecidas. Apesar de algumas demências serem diagnosticadas por exames, para o Alzheimer não há diagnóstico clínico totalmente eficiente. O tratamento é feito de forma a controlar os sintomas e evitar o agravamento das complicações cerebrais.
Desde sua criação, em 2004, o laboratório já recebeu mais de 3.300 encéfalos doados por familiares de idosos submetidos a autópsias feitas pelo Serviço de Verificação de Óbito da Capital (SVOC) da USP. A singularidade do biobanco é a diversidade dos materiais, uma vez que os tecidos e órgãos recebidos vêm de pessoas com origem étnica, cultural, econômica e social variada.
Segundo Renata Elaine Paraízo Leite, coordenadora do laboratório, a miscigenação e a heterogeneidade da população brasileira contribuem para a compreensão da manifestação de várias doenças, entre elas as neurodegenerativas, porque há a possibilidade de cruzamento e comparação de dados. “O laboratório concentra um conjunto heterogêneo de amostras valioso e que já serviu de base para diversos estudos científicos no Brasil e no exterior”.
O biobanco do laboratório passará a receber mais tecidos humanos para formar uma coleção de dados e de material biológico a fim de suprir pesquisas de uma rede interdisciplinar, que abrangem aspectos do envelhecimento normal e patológico. As pesquisas do laboratório são feitas em parceria com outras universidades brasileiras e estrangeiras.
Contribuição do laboratório para a ciência
Em 12 anos de pesquisa, o laboratório fez importantes descobertas. Um estudo demostrou que a ancestralidade africana protege as pessoas de desenvolver a Doença de Alzheimer porque, de acordo com pesquisas, indivíduos com ascendência naquele continente seriam mais resistentes às placas amiloide (depósitos de proteínas que matam neurônios do cérebro), um dos sinais mais importantes da doença.
Outro trabalho encontrou correlação do papel da escolaridade na constituição da reserva cognitiva. Segundo Renata, mesmo com poucos anos de estudo, o indivíduo tem menos chance de desenvolver demência. Uma pesquisa demonstrou ainda que a Doença de Alzheimer tem início em núcleos do tronco cerebral e não no córtex, como se pensava anteriormente. “O resultado desse trabalho muda o alvo das intervenções terapêuticas”, afirma Renata.
A cerimônia de ampliação das instalações do Laboratório de Fisiopatologia do Envelhecimento, da FMUSP, ocorreu em março. No local, são desenvolvidos estudos em conjunto com rede de pesquisas interdisciplinares de instituições da própria USP – a Faculdade de Medicina (FMUSP), o Instituto de Química (IQ) e o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) – e outros centros de pesquisas e universidades brasileiras e de outros países como a Alemanha, Estados Unidos, Portugal, dentre outros.
Mais informações: (11) 3061-8249 / 3061-8268, email renataleite@usp.br