Em recente pesquisa, os professores Edson Satoshi, da Escola Politécnica (Poli) da USP e Vital Costa, da Unicamp, desenvolveram uma ferramenta que utiliza inteligência artificial (IA) capaz de detectar o glaucoma. O diagnóstico do glaucoma é complexo e requer uma diversidade de exames. Além disso, a doença é assintomática em seu estágio inicial. Segundo Satoshi, o uso de IA tornará a detecção mais rápida e precisa.
O sistema funciona analisando um grande volume de dados fornecidos pelos exames de pacientes com suspeita da doença. Após processar essas informações, a máquina pode afirmar se o caso é ou não uma suspeita de glaucoma. O objetivo é fornecer auxílio aos médicos da área no diagnóstico do glaucoma – o professor da Poli vê a IA como “uma terceira opinião”.
Visando reduzir a taxa de erros em diagnósticos, a inteligência foi desenvolvida com um método chamado ‘aprendizagem supervisionada’. “Nós alimentamos o algoritmo com dados clínicos, ou seja, as características de alguém que têm ou não têm glaucoma, e ele faz o diagnóstico positivo ou negativo, então o parâmetro é estabelecido pelo médico. O sistema então usa as informações iniciais para analisar novos dados, e assim vai aperfeiçoando o processo.”
Os dados utilizados são obtidos a partir dos exames de campo visual e tomografia de coerência óptica, sendo este último usado para verificar a espessura da fibra nervosa óptica, dado fundamental para o diagnóstico. “Baseado nesses exames, o sistema tem uma chance maior de acertar o diagnóstico que o oftalmologista-geral”, diz o professor Vital Costa, que é chefe do setor de glaucoma da Unicamp.
A vantagem da tecnologia, segundo Satoshi, seria abrir a possibilidade de um profissional de saúde realizar um diagnóstico mais rápido, e então fazer o encaminhamento do pacientes para o oftalmologista especializado.
Uma alternativa acessível
Edson Satoshi apresenta o desenvolvimento da ferramenta independente como um avanço para a acessibilidade na saúde. Para o professor da Poli, a possibilidade do diagnóstico ser realizado por um oftalmologista-geral torna o atendimento mais democrático frente às dificuldades na área da saúde. “Ter um médico especializado em cada posto de saúde é inviável. Na prática, ter um equipamento é mais factível. O ideal, claro, seria ter uma pessoa, mas é difícil.”
Além da rapidez e precisão, portanto, o uso de um software para o diagnóstico da doença torna o processo de tratamento também mais barato. “O uso da IA permite que mais pessoas sejam atendidas e beneficiadas”, diz Edson Satoshi.
Vital Costa informa que o glaucoma afeta 2% da população mundial com mais de 40 anos. No Brasil, esse número soma mais de 40 mil pessoas, e 33% dos pacientes que buscam tratamento para a doença já estão em estágio avançado, em que a doença causa a cegueira. “Já que não há dor nem incômodo, o paciente só procura um médico quando percebe algo errado com a visão”, explica o médico.
O próximo passo
O professor da Poli explica que a nova tecnologia permite a medição da probabilidade de glaucoma, porém a dificuldade estaria na interpretação desses dados pelo médico, rapidamente e sem erro. “O próximo passo para a pesquisa é a interpretação de imagens por essa inteligência”, essa função tornaria a máquina ainda mais sofisticada, e capaz de dar mais apoio ao médico.
Mesmo assim, a presença do profissional se faz essencial. O sistema tem como objetivo auxiliar o médico, e não substituí-lo. “Tem que ter um médico no final”, diz Satoshi.
Segundo o professor da Unicamp, “não há dúvidas que o trabalho causa um impacto positivo na área da saúde” e que atinge a área médica como um todo. “O uso da inteligência artificial para auxiliar na medicina já é uma realidade”, diz Costa.
Mais informações: (11) 3091-0680, e-mail: gomi@usp.br, com Edson Satoshi Gomi; e-mail: vp.costa@uol.com.br, com Vital Costa