Pesquisa realizada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP aponta que a depressão pós-parto é mais comum em mães adolescentes e influencia diretamente no abandono precoce do aleitamento materno exclusivo e, consequentemente, na não construção do vínculo entre mãe e bebê que a amamentação proporciona.
Segundo a pesquisadora Juliana Regina Cafer, da EERP, o estudo também revelou que as mães adolescentes com sintomas de depressão pós-parto consideram a amamentação apenas como uma forma de alimentação, não associando essa prática com os benefícios do vínculo entre mãe e bebê.
A depressão pós-parto, de acordo com descrição na décima edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), ocorre até seis semanas após o nascimento do bebê. Os sintomas mais comuns são instabilidade de humor, preocupação excessiva com o bebê, ansiedade grave, ataques de pânico, desinteresse e medo de ficar só com a criança.
Dados da literatura científica na área evidenciam que uma a cada duas gestações que ocorrem na adolescência apresenta depressão pós-parto e que quanto mais precoce é a gestação, maior a chance de a mãe desenvolver sintomas depressivos. “Isso acontece devido à tendência das mães adolescentes serem mais socialmente isoladas, presenciar níveis mais elevados de estresse familiar e terem baixa autoestima e confiança”, afirma Juliana.
Quanto às alterações emocionais causadas pela depressão, diz Juliana, elas influenciam no fácil abandono do aleitamento materno diante das dificuldades iniciais da amamentação. “As mães que apresentam sintomas de depressão pós-parto tendem a ter a disponibilidade prejudicada para amamentar em livre demanda, e sentem-se aliviadas com a introdução da mamadeira.”
Juliana entrevistou 14 mulheres, com idade entre 12 e 19 anos, e pôde constatar que a maioria delas possui autoestima baixa e acredita que não é capaz de amamentar devido aos medos, angústias e receios, chegando até a duvidar da eficácia do seu leite, considerando-o fraco e insuficiente para sustentar o bebê. “Com isso, as mães introduzem fórmulas lácteas, leite de vaca e alimentos sólidos antes dos seis meses de vida do bebê.”
A pesquisa também mostra que a maior parte dessas mães usa a internet para tirar dúvidas relacionadas à amamentação e maternidade e que, muitas vezes, não se sente à vontade para perguntar a um profissional de saúde ou familiar. Juliana notou que as mulheres entrevistadas “têm certa necessidade de mostrarem-se suficientemente ‘boas’ para cuidar dos seus filhos”, o que ajuda a impulsionar a busca de informações nos meios digitais.
No entanto, lembra Juliana, a internet não substitui o acompanhamento de um profissional de saúde no pós-parto. “O acompanhamento se faz essencial neste período, ainda mais se for uma gravidez em meio a aspectos de vulnerabilidade como gravidez indesejada na adolescência, pobreza, violência doméstica e ausência do parceiro, por exemplo.” A pesquisadora lembra, também, que o profissional de saúde tem o papel de acompanhar a mãe e a família, oferecendo um cuidado mais próximo, humanizado e integral à mulher, com atenção especial às questões emocionais, para que ela vivencie a maternidade de forma mais saudável e plena.
A dissertação Representações sociais sobre amamentação na perspectiva de mães adolescentes com sintomas de depressão pós-parto foi defendida em junho deste ano, e orientada pela professora Juliana Stefanello, da EERP.
Stella Arengheri / Serviço de Comunicação da PUSP-RP
Mais informações: juliana.cafer@usp.br