Por Marcelo Canquerino, estagiário de jornalismo, sob supervisão de Luiza Caires
Uma pesquisa da Escola de Enfermagem (EE) da USP elaborou um protocolo de comunicação entre profissionais de saúde e pacientes que estão em situação de isolamento, também chamadas de situações de precaução, como a quarentena. De acordo com Luize Juskevicius, autora do trabalho, o protocolo sistematiza boas práticas para estes casos, com destaque para a escuta do paciente e a preservação da sua autonomia. O estudo traz, também, recomendações para prevenir o desenvolvimento de transtornos psicológicos como ansiedade.
O protocolo foi desenvolvido durante o mestrado de Juskevicius, Precauções específicas para transmissão de microrganismos: elaboração e validação de instrumento para contribuir na redução da vulnerabilidade individual, iniciado em 2014 e finalizado em 2016. Agora, no doutorado, iniciado em 2017, o protocolo está em fase de implementação. No Hospital Universitário (HU) da USP ele já foi implementado na área de clínica médica e cirúrgica, por exemplo. Essa implementação ocorreu com o apoio dos setores de controle de infecção e pesquisa/educação da instituição.
Com a rápida disseminação do coronavírus, Juskevicius ressalta a importância para a forma como as informações são passadas ao paciente, já que a doença requer algumas medidas. “O roteiro para elaboração do protocolo foi baseado na literatura da área e em entrevistas com pacientes em situação de precaução. Ele foi validado por especialistas tanto do campo teórico como da área aplicada de controle e prevenção de infecções”, contou a pesquisadora. Foram entrevistados 39 pacientes em situações de precaução específicas (contato, gotículas e aerossóis) de hospitais públicos e privados entre janeiro e julho de 2015.
A ideia de fazer o protocolo surgiu da demanda observada na prática. A enfermeira percebeu que a comunicação entre profissionais de saúde e pacientes era falha e que, além disso, gerava danos como o desenvolvimento de depressão e ansiedade causadas pelo isolamento. “Essas observações vieram da minha experiência em trabalhar na área de controle de infecções”, explicou.
A proposta apresenta alguns pilares importantes que visam ajudar na comunicação e trazer um retorno positivo. Um deles baseia-se em fortalecer o paciente para que ele não tenha nenhum tipo de dano, principalmente psicológico. “Analisando os casos de covid-19, a doença pode gerar alguma ansiedade sobre como vai ser o isolamento do paciente, caso seja necessário. O protocolo busca eliminar esse dano”, exemplificou.
Preservar a autonomia do paciente escutando o que ele conhece sobre sua situação também é muito importante. O profissional entra para complementá-lo, se necessário, ou corrigi-lo em caso de alguma fala errada. A pesquisadora atenta para a importância de estimular os profissionais da saúde a abrirem espaço para o engajamento do paciente e para que ele cuide de sua própria saúde. “Isso se daria com o paciente conhecendo, por exemplo, porque as medidas de isolamento/precauções são instituídas, e porque ele as está seguindo.”
Dentro do protocolo, uma seção orienta a abordagem dos profissionais de saúde: são dadas sugestões de como fazer isso seguidas das respectivas justificativas. Além disso, o trabalho destaca que conferir se o paciente realmente aprendeu é essencial para que ele compreenda sua situação e, se precisar manter uma situação de isolamento em casa, por exemplo, entenda o porquê é necessário seguir as orientações do profissional de saúde.
De acordo com a pesquisadora, é importante para o paciente entender quais as paramentações (vestimentas adequadas necessárias em algumas ocasiões para evitar transmissão) o profissional usará para vê-lo e como elas serão usadas. Comunicar essas informações é fator crucial para reduzir a ansiedade.
“No caso do covid-19, também é muito importante o profissional da saúde instruir o paciente a como usar a máscara, quando trocar, a questão da higienização das mãos”, pontua LuizeJuskevicius.
O protocolo também traz ganhos para outras possíveis internações futuras, pois o paciente já vai ter sido instruído anteriormente. “Além disso, as medidas podem gerar engajamento e conhecimento para ele se cuidar em casa, caso precise. No exemplo do que estamos vivendo agora, do covid-19, se uma pessoa com a doença passa por um pronto-socorro, com a aplicação desse protocolo, a comunicação entre profissionais de saúde da unidade e o paciente seria muito mais efetiva. O paciente entenderia por que ficar em isolamento e como fazer isso, dando-lhe autonomia”, finalizou a pesquisadora.
Luize Juskevicius é bolsista da Capes e realizou seu trabalho pelo Programa de Pós Graduação em Enfermagem (PPGE) da EE. O doutorado Avaliação da implementação do com-efe: protocolo para comunicação efetiva com indivíduos em precauções específicas está sendo orientado pela professora Maria Clara Padoveze no Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva (ENS). Padoveze também foi orientadora do mestrado.
Mais informações: e-mail luizejuskevicius@gmail.com, com Luize Juskevicius