Mais conhecida como açafrão-da-terra, a cúrcuma é uma especiaria originária do continente asiático. Para além do uso culinário, ela já é adotada há milhares de anos na Índia como erva medicinal. Ao testar uma das substâncias da cúrcuma, a curcumina, pesquisadores das Faculdades de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) e de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP verificaram seu poder contra a sepse – infecção generalizada.
Vários estudos já descreviam as propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e até anticancerígenas da curcumina. Agora, os cientistas conseguiram aumentar as taxas de sobrevivência em animais de laboratório com sepse utilizando uma solução à base da especiaria. Esses animais viveram 20% a mais que os demais, além de apresentar redução considerável nos níveis de citocinas pró-inflamatórias (moléculas do sistema imunológico que respondem a processos inflamatórios) no sangue.
Carlos Henrique Rocha Catalão, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, diz que foi utilizada uma dosagem de curcumina não prejudicial aos ratos sépticos. Ao contrário, ela “aumentou temporariamente a sobrevida”. Por não encontrarem a substância no plasma dos animais 24 horas após o choque séptico, os cientistas sugerem que a curcumina pode ter sido distribuída pelos tecidos do organismo animal e exercido suas propriedades terapêuticas.
O produto à base de curcumina usado no estudo foi desenvolvido no laboratório do professor Luís Alexandre Pedro de Freitas, da FCFRP. Lá, o professor aumentou “a biodisponibilidade da curcumina através de uma dispersão sólida (pó)”, explica Catalão. “Esse pó foi diluído em água, dando forma à solução usada no tratamento dos animais”.
A medida certa
Para o Catalão, mesmo se tratando de pesquisa em modelo animal, os resultados “devem estimular mais estudos in vivo, que são necessários para esclarecer o efeito da curcumina, especialmente na produção de óxido nítrico durante a sepse”.
No sistema imunológico, o óxido nítrico tem a função de combater a infecção, mas em alta produção – como a que acontece na sepse – pode ser prejudicial. Neste estudo, os pesquisadores observaram que a curcumina, ao contrário do que imaginavam, aumentou os níveis do óxido nítrico no plasma dos ratos. Assim, é necessária mais investigação in vivo quanto às doses de curcumina que promovem sua ação oxidante ou antioxidante.
Os principais achados da equipe da USP nesse estudo estão publicados em edição recente da revista Pharmaceutical Byology.
Thainan Honorato, de Ribeirão Preto
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