A Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) está testando a eficácia do método de treinamento esportivo chamado Living High and Training Low (Viver no alto e treinar no baixo). Foto: Gabriel Soares
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A Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP inicia estudo que vai investigar os efeitos da altitude simulada sobre o desempenho esportivo. A relação entre a baixa oxigenação causada pela altitude elevada, aproximadamente 3 mil metros, e o rendimento esportivo não é novidade entre os atletas de alto desempenho. O medalhista olímpico Vanderlei Cordeiro de Lima, por exemplo, treinou em Paipa (Colômbia), a 2,6 mil metros acima do nível do mar, meses antes da competição em Atenas em 2004, quando entrou para a história do esporte. Outro adepto do método é o triatleta brasileiro Diogo Sclebin, que durante a última Olimpíada, no Rio 2016, deu créditos para seu desempenho por utilizar tendas simuladoras de altitude durante a noite.
Mas a eficácia desse método, chamado Living High and Training Low (Viver no alto e treinar no baixo), no desempenho esportivo ainda gera discussões, segundo o professor Marcelo Papoti, coordenador da pesquisa na EEFERP. “Por isso, adquirimos cinco tendas normobáricas e vamos testar o método que simula a altitude. Acrescentamos no estudo o papel do polimento, ou seja, um período em que as cargas dos treinamentos são drasticamente reduzidas para que os atletas atinjam o máximo desempenho nas competições mais importantes.”
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Papoti explica que, nesse método, o padrão mais utilizado pelos atletas é passar períodos de treinos em ambientes com baixa oxigenação, ou seja, em altitudes elevadas. “Mas estudos recentes demonstraram que viver em locais com altitudes elevadas e treinar em ambientes mais próximos do nível do mar trouxeram melhores resultados, por permitir que os atletas treinem com maior intensidade.” O professor cita como exemplo a seleção brasileira de natação, que treinou em 2015 durante 21 dias em Sierra Nevada, na Espanha, que está a 2.320 metros de altitude.
Uma das dificuldades para treinamento em locais muito acima do nível do mar, além do deslocamento, é o elevado custo. Segundo Papoti, aí entra a praticidade das tendas. “Elas podem ser levadas para qualquer lugar e com isso simular o ‘Viver no alto e treinar no baixo’, sem contar o custo. Se o atleta permanecer no seu local de origem, o custo será só mesmo o da sua manutenção.”
O pesquisador explica que vários estudos têm demonstrado resultados contraditórios de que viver no ar da montanha e treinar em altitudes mais próximas ao nível do mar geram melhores ganhos, mas os resultados ainda são inconclusivos. Além disso, diz, a maior parte das pesquisas investiga os efeitos da altitude sobre a capacidade do organismo em consumir mais oxigênio, que pode ser vantajoso para esportes de longa duração predominantemente aeróbios. “Nossa hipótese é que essa estratégia também resulte em adaptações musculares que favorecem atletas que competem em provas de curta duração, as predominantemente anaeróbias.”
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Parcerias
O projeto recebeu recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e surgiu a partir de uma parceria entre o Instituto August Krogh, da Universidade de Copenhague (Dinamarca), e o Grupo de Estudos em Ciências Fisiológicas e Exercício da EEFERP. Na Dinamarca, a coordenação é do professor Nikolai Braastrup Nordsborg e, na EEFERP, é do professor Papoti, que fez estágio no instituto, quando surgiu a ideia do projeto que envolve também outras unidades do campus de Ribeirão Preto, como as Faculdades de Medicina (FMRP) e de Ciências Farmacêuticas (FCFRP).
Para Papoti, as parcerias, especialmente com a unidades locais, podem trazer conhecimentos científicos importantes que, no futuro, poderão ser aplicados na área da avaliação, prescrição e no monitoramento do treinamento de atletas de alto rendimento. “Nosso estudo traz uma abordagem diferente dos já realizados no Brasil, pois somente uma perna será treinada enquanto a outra será o seu controle. Esta abordagem é muito utilizada por grupos de estudo da Europa e foi proposta inicialmente pelo professor Bengt Saltin, também do Instituto August Krogh.”
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Fases do estudo
O estudo brasileiro foi iniciado nesta segunda-feira, dia 6 de agosto, com pessoas fisicamente ativas para padronização dos procedimentos. A segunda fase será com os integrantes da Academia da Força Aérea, em Pirassununga.
Na primeira fase, os voluntários vão dormir nas tendas normobáricas, com a simulação de uma altitude de aproximadamente 3 mil metros. O período de permanência nas tendas será de aproximadamente oito horas. Antes e após o estudo serão analisadas as alterações musculares, intensidade dos exercícios (velocidade, potência, frequência cardíaca, entre outros) e os parâmetros associados ao consumo máximo de oxigênio determinado por meio de análises de gases, além da resistência à fadiga.
“Caso os resultados esperados se confirmarem, estará criada uma nova possibilidade tecnológica para a preparação física dos atletas brasileiros e o desenvolvimento científico e tecnológico a serviço da prática esportiva dos atletas”, finaliza Papoti.
Mais informações: (16) 3315-0529 ou e-mail mpapoti@yahoo.com.br, com o professor Marcelo Papoti.
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