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As vacinas são fundamentais para nos proteger de diversas doenças, mas nem sempre elas apresentam a mesma eficácia em todas as pessoas. Conseguir prever o sucesso da atuação delas é uma conquista que pode estar próxima. Um estudo desenvolvido por pesquisadores do Centro de Pesquisas em Doenças Inflamatórias (Crid), do campus de Ribeirão Preto da USP, e das universidades norte-americanas Emory University, California, Colorado, West Point utilizou uma técnica inédita para avaliar a ação de vacinas em seres humanos que pode, no futuro, proporcionar a criação de kits capazes de especificar quais vacinas funcionam – e quais efeitos colaterais elas podem causar – em cada organismo.
O trabalho, publicado neste mês na revista Cell, avaliou como são a resposta imune inata e a resposta adaptativa induzidas pela vacina contra o herpes zoster, que é recomendada para pessoas acima de 50 anos. O herpes zoster é uma doença causada pela reativação do vírus varicela zoster, o mesmo que causa a catapora. Após uma infecção aguda, ele permanece dormente durante anos nas raízes nervosas, que são responsáveis por levar as informações do ambiente externo para o sistema nervoso.
“Em idosos, esse vírus pode ressurgir e causar uma dor muito intensa relacionada a uma inflamação na região dos nervos. Essa doença é conhecida popularmente como cobreiro. A ideia do estudo surgiu justamente da importância dessa vacina que tenta prevenir o cobreiro em idosos”, explica o pesquisador principal do Crid, Helder Nakaya.
Nakaya e outros 26 pesquisadores utilizaram uma estratégia chamada vacinologia de sistemas para avaliar a ação da vacina. Setenta e sete pacientes entre 25 e 40 anos e entre 60 e 79 anos participaram do estudo e foram monitorados por, pelo menos, 180 dias.
“O grupo do professor da Emory University, Bali Pulendran, autor principal do estudo, vacinou idosos e adultos jovens contra o herpes zoster e depois coletou o sangue deles em diversos dias e até meses após a vacinação. Usando técnicas de larga escala e ensaios imunológicos, foram medidos todos os milhares de metabólitos afetados por essa vacina, a atividade de outros milhares de genes transcritos após a vacinação, além dos tipos celulares envolvidos, as citocinas no soro e, claro, as respostas imunes”, explica Nakaya.
Segundo o pesquisador, cada um desses itens representa uma imensa quantidade de componentes biológicos. Para analisá-los e entendê-los, foram usadas técnicas avançadas de bioinformática que, no final, geraram uma “rede de resposta multifatorial multiescala”. Essa rede revelou associações significativas entre a expressão de genes, níveis de metabólitos, populações de células e citocinas, e também foi importante para entender a resposta adaptativa e os efeitos de variáveis biológicas, como idade, sexo e a detecção do DNA do vírus.
“O grande desafio dessa pesquisa foi a integração de dados. Quando você lida com dados ‘ômicos’, ou seja, uma quantidade massiva de dados, é preciso utilizar diferentes técnicas de biologia de sistemas. Não é tão trivial comparar esses dados e entender que associação deve ser relevante para um determinado fenótipo. Foi a primeira vez que uma análise de metaboloma [conjunto de metabólitos] e transcriptoma [conjunto de genes transcritos] foi feita para uma vacina”, conta Nakaya.
Embora a pesquisa tenha sido desenvolvida nos Estados Unidos, ele explica que os impactos podem beneficiar diretamente os brasileiros. “Essas técnicas que desenvolvemos podem ser aplicadas também para vacinas brasileiras. Já estamos em contato com o Instituto Butantan para aplicação dessa técnica na vacina da dengue e de outras doenças, como malária, gripe e febre amarela. No futuro, talvez esses estudos sejam transformados em um kit ou método que permita dizer que vacina vai funcionar para cada pessoa e quais efeitos colaterais ela pode causar.”
Mais informações: e-mail imprensa.rp@usp.br, site www.crid.fmrp.usp.br
Por: Thais Cardoso