No Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, em São Carlos, pesquisadores desenvolveram uma técnica de reciclagem de plásticos não reutilizáveis, que poderão ser empregados na produção de mobiliário escolar. O material reciclado, produzido a partir dos resíduos gerados por uma indústria de calçados, é isolante térmico, elétrico e possui excelente resistência mecânica, além de ser antichamas. Além da fabricação de cadeiras e estantes, entre outros móveis, o material pode ser aplicado na construção civil, na construção de forros e paredes.
O plástico reciclado foi desenvolvido no Laboratório de Construção Civil (LCC) do IAU, em pesquisa coordenada pelo professor Javier Mazariegos Pablos. No que se refere ao comportamento frente à temperatura, existem dois tipos de plásticos (polímeros): os termoplásticos que, ao serem aquecidos, tornam-se maleáveis e, portanto, podem ser reutilizados. Já os polímeros termofixos, mesmo aquecidos, não são maleáveis e, portanto, não reutilizáveis. Mazariegos Pablos, os alunos de doutorado Gustavo Ribeiro Palma e Victor José dos Santos Baldan, e o arquiteto Everton Randal Gavino, ex-aluno do IAU, decidiram reciclar os polímeros termofixos, construindo mobiliários escolares.
A matéria-prima vem de uma indústria calçadista de Nova Hamburgo (Rio Grande do Sul), que utiliza polímeros termofixos para produção de saltos de sapatos, rodas de skate, entre outras coisas. E é justamente com as sobras desses materiais que os pesquisadores trabalham. “As indústrias não sabem o que fazer com essas sobras, e mandam tudo para os aterros sanitários”, conta o professor do IAU.
Isolante e resistente
Durante seu mestrado, Santos Baldan fez a caracterização completa desse material, verificando que se trata de um isolante térmico, isolante elétrico e antichamas, além de ter ótima resistência mecânica, características que o tornam excelente para utilização na construção civil. “A partir disso, foi criada uma metodologia que previa a caracterização completa do material, visando sua aplicação, por meio dos ensaios de condutividade térmica e elétrica e de flamabilidade”, relata. “A descoberta de que o material é antichamas foi de fundamental importância, o que garante a sua ampla aplicação, tendo em vista os acidentes recentes relacionados à proteção e combate a incêndios”.
Entretanto, a “fórmula certa” para reciclagem do material consistiu em encontrar a granulometria (tamanho do grão) ideal. Neste caso, duas granulometrias diferentes. “Misturar metade de grãos finos com metade de grãos grossos foi a solução, pois os grãos maiores sempre deixam vazios, que, por sua vez, são preenchidos pelos menores”, explica o professor.
Na mistura dos grãos, foi feita a adição de resina de mamona, prensada em uma prensa térmica por 15 minutos, a uma temperatura de 50 graus celsius (ºC), com força de 5 toneladas (ton). “O resíduo utilizado na pesquisa não era de dureza muito alta, por isso, o material confeccionado apresentava flexibilidade”, relata Santos Baldan. “Como a ideia do mestrado era aplicar o material desenvolvido como elemento de construção civil, a partir de algumas observações em laboratório, resolveu-se incorporar uma manta de fibra de vidro entre duas camadas do material, aumentando sua rigidez e resistência mecânica em cerca de 50%”.
Móveis e paredes
O material, cujo nome técnico é compósito de poliuretana termofixa reciclada, está em processo de patenteamento. Já o projeto de confecção de mobiliários escolares foi submetido à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), tendo sido aprovado como Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), e recebido uma verba de cerca de R$ 200 mil. “A ideia é fazer pranchetas, cadeiras, estantes etc.”, conta Javier.
Entretanto, por apresentar tantas características promissoras, o compósito oferece infinitas possibilidades de uso, entre elas como forro e como paredes em sistemas de steel frame (gaiola de aço, na tradução para o português), sistemas inovadores que não utilizam água para sua construção, são rápidos de montar e muito leves. “Esses sistemas já são largamente utilizados no Japão e na Europa, mas no Brasil ainda não”, diz Pablos. A metodologia proposta pode ser adaptada a diversos outros materiais que podem ser mais um fardo para o meio ambiente, a exemplo das cápsulas de café, que vêm sendo estudadas por uma aluna de iniciação científica do professor do IAU.
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