“As aventuras de Nhô Quim” são marco histórico dos quadrinhos no Brasil e no mundo 

Artigo parte da obra de Angelo Agostini, pioneiro das histórias em quadrinhos no Brasil e no mundo, para discutir a importância cultural dessa forma de arte

 11/04/2022 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 27/05/2022 às 15:00

Publicada a partir de 1869, As Aventuras de Nhô-Quim é considerada a primeira história em quadrinhos brasileira – Imagem: Reprodução.

 

Margareth Artur/Portal de Revistas da USP

O mundo está cada vez mais visual, e se o ser humano tem uma inata predisposição para ouvir histórias, contá-las e recontá-las, hoje, mais do que nunca, as pessoas gostam de ver as histórias. Entre as narrativas contadas por textos e imagens, a linguagem mais representativa é a que se encontra nas histórias em quadrinhos. Mas como surgiram, e quem as criou? O artigo da revista 9ª Arte nos apresenta o primeiro personagem das histórias em quadrinhos no Brasil, Nhô Quim, e seu criador, o ítalo-brasileiro Angelo Agostini. Na visão dos autores do artigo, a ausência dos balões – ainda adotada por muitas histórias modernas – não descaracteriza a obra como HQ. Isso permite reabrir “a discussão sobre qual seria a primeira história em quadrinhos publicada no mundo”.

De maneira predominante, tal pioneirismo é atribuído a Richard Felton Outcault com seu Yellow Kid em 1896. Mas As Aventuras de Nhô Quim foram publicadas muito antes no Brasil, na revista Vida Fluminense, em 30 de janeiro de 1869.

Yellow Kid, de Richard Outcault – Reprodução

 

Independentemente de quem tenha sido o primeiro a publicar nesta linguagem, fato é que as HQs estabeleceram-se como um instrumento de diversão incomparável para crianças e adultos, “conquistando cada vez mais espaço em escolas, nas bibliotecas, nas residências, na mídia e nas universidades”, sem contar a importância dessa linguagem como instrumento de informação eloquente ao leitor quando se trata de discutir e desmistificar questões como preconceitos de cor, raça, estigmas relacionados a deficiências de toda espécie, bullying e outros temas.

Imagens também contam histórias e registram fatos e costumes de civilizações humanas: “Desenhos e imagens são usados até hoje para reproduzir o trajeto dos homens santos nas paredes e tetos das igrejas.” Histórias em quadrinhos reúnem arte, compromisso com a realidade, diversão e cultura. O artigo ressalta a importância de outros criadores na evolução dos quadrinhos, como o suíço Rudolf Töpffer com Histoire de Mr. Jabot, de 1833, e do alemão Willhelm Busch, com Max und Moritz, de 1865, traduzidos no Brasil por “Juca e Chico”. Porém, somente nas décadas de 1950 e 1960 as histórias em quadrinhos ganharam “o ritmo e o modelo das atuais”. Maurício de Sousa e Ziraldo Alves Pinto são os cartunistas mais representativos, hoje, dos quadrinhos infantis, reconhecidos mundialmente.

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Uma história em que há a aliança da imagem com o texto “ganha vida” e configura-se como uma importante função de comunicação. Os quadrinhos são fonte de conhecimento, cultura, diversão e arte no mundo todo. No Brasil são conhecidos como “gibis”; no Japão como “mangás”; em países de língua inglesa temos os comics; e na Itália os fummetti. Os autores discorrem sobre os vários tipos de quadrinhos, vários autores, pertinentes a cada época, a cada situação e complexidades relacionadas às questões do ser e do mundo.

Os quadrinhos brasileiros acompanharam, testemunharam, divulgaram e denunciaram questões sociais, políticas, econômicas e culturais de cada momento da história brasileira. A linguagem das histórias em quadrinhos, a narrativa, as linguagens verbais e não verbais, o uso do recurso do balão de texto, o emprego da expressão anatômica, a cenografia, a escolha das cores são abordagens presentes.

Sem desmerecer outros cartunistas, como Outcault “com o seu genial Yellow Kid”, os autores do artigo querem mostrar a relevância de cartunistas e artistas como Angelo Agostini, “que se não era brasileiro no sangue o era por opção”, pioneiro na arte dos quadrinhos, encantando públicos de todas as idades e proporcionando ao leitor “sonhos, aventuras, humor e olhar crítico sobre o mundo”. Clamada pelos autores “como uma verdadeira história em quadrinhos”, As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte viajou o mundo e foi consagrada tanto por ser uma obra pioneira no gênero como também, aqui no Brasil, por contar a história de um personagem representativo interiorano, ingênuo e desastrado, dando margem para que Angelo Agostini se posicione criticamente diante dos graves problemas que aparecem nos centros urbanos brasileiros, principalmente os sociais, os culturais e os políticos.

 

Artigo

LOTUFO, C. A.; SMARRA, A. L. S.; SILVA, L. F. da; GOMES, N. dos S. As aventuras de Nhô Quim: O Marco Histórico dos Quadrinhos no Mundo. 9ª Arte, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 15-41, 2022. DOI: https://doi.org/10.11606/2316-9877.2021.v9i2.153373. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/nonaarte/article/view/153373. Acesso em: 26 jan. 2022.

 

Contatos

André Luis Soares Smarra – Professor da Universidade Estácio de Sá e especialista em Fisiologia Humana, Educação e Gestão Ambiental pelo Conselho Regional de Biologia – CRBio. [andre@smarra.com.br]

Cesar Augusto Lotufo – Arqueólogo pela Universidade Estácio de Sá nas áreas de Arqueologia e Meio Ambiente, com os temas: Rio de Janeiro, Culturas Tradicionais, Histórias em Quadrinhos, Responsabilidade Socioambiental e Gestão Ambiental. [lotufocesar@gmail.com]

Luciano Filizola da Silva – Advogado e professor auxiliar I da Faculdade Signoreli e do Centro Universitário Augusto Motta. [lucianofilizola1976@gmail.com]

Nataniel dos Santos Gomes – Professor da Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. [natanielgomes@uol.com.br]


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