
A transição energética vem ganhando força nos últimos anos e as vertentes mais promissoras nesse contexto são a autoprodução e a geração distribuída de energia. Essas modalidades permitem que consumidores gerem sua própria eletricidade por meio de fontes renováveis, como a solar e a eólica, e compartilhem o excedente com a rede elétrica. Essa inovação transforma usuários em “prosumers”, que são simultaneamente produtores e consumidores de energia. O resultado é uma descentralização do sistema elétrico tradicional, que historicamente é dominado por grandes geradores e distribuidores.
Com a expansão das tecnologias de geração distribuída, a energia solar se consolidou como a principal protagonista. Os painéis fotovoltaicos, cada vez mais acessíveis, possibilitam que residências, comércios e indústrias produzam eletricidade suficiente para suprir suas demandas e, muitas vezes, gerar excedente. No Brasil, a geração distribuída solar fotovoltaica tem apresentado um crescimento exponencial, refletido na instalação de milhões de sistemas em todo o País. Esse avanço é crucial não apenas para a diversificação da matriz energética nacional, mas também para o empoderamento do consumidor, que se torna menos dependente das flutuações das tarifas de energia e das crises no setor elétrico.
Outro ponto importante é o impacto positivo da geração distribuída na estabilidade do sistema energético. Ao contrário do modelo centralizado, em que grandes usinas geram eletricidade para ser distribuída por longas distâncias, a geração distribuída acontece perto do ponto de consumo. Isso reduz perdas de energia no transporte e alivia a pressão sobre a infraestrutura de transmissão. Além disso, essa proximidade diminui a vulnerabilidade do sistema em relação a apagões e outros problemas causados por falhas em linhas de transmissão.
No entanto, o avanço da autoprodução e da geração distribuída não ocorre sem desafios. O modelo atual de distribuição de energia foi desenhado para ser unidirecional, com a eletricidade fluindo de grandes centrais geradoras para os consumidores finais. A mudança para um modelo bidirecional, em que os consumidores também enviam energia para a rede, exige adaptações tecnológicas e regulatórias. As distribuidoras de energia, por sua vez, precisam se adaptar a essa nova realidade, buscando formas de integrar essa energia descentralizada e garantir a segurança e a estabilidade da rede.
A regulação é um dos temas centrais nesse debate. Em muitos países, inclusive no Brasil, houve uma série de incentivos para que a geração distribuída pudesse ganhar força, como o modelo de compensação de créditos para consumidores que injetam o excedente de energia na rede. No entanto, com o crescimento exponencial do setor, novas regras têm sido discutidas para garantir a viabilidade econômica tanto para os “prosumers” quanto para as concessionárias de energia. O equilíbrio entre incentivar a autoprodução e garantir a sustentabilidade financeira do sistema é uma questão complexa que ainda precisa de ajustes.
A Série Energia tem apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA) que coproduziu com Ferraz Junior e a edição é da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.