
O World Energy Outlook (WEO) 2024, que pode ser traduzido como Perspectivas Energéticas Mundiais 2024, publicado pela Agência Internacional de Energia (IEA) em outubro último, destaca-se como uma análise essencial em tempos de instabilidade geopolítica e crises climáticas. O relatório aborda como a segurança energética global se torna cada vez mais desafiadora, especialmente com a crescente demanda por eletricidade em um contexto de mudanças climáticas extremas e aumento dos riscos globais. Para países como o Brasil, que possuem abundantes recursos naturais, o WEO revela oportunidades, mas também ressalta as vulnerabilidades e a urgência de diversificar a matriz energética para garantir segurança e resiliência.
O relatório indica que a eletrificação e as energias renováveis estão em rápida ascensão, com mais de 560 gigawatts de nova capacidade de geração limpa adicionada em 2023. Apesar disso, o relatório enfatiza que a transição energética global ainda não está avançando na velocidade necessária para limitar o aquecimento global a 1,5 °C. A expansão das energias renováveis precisa ser acompanhada por investimentos em infraestrutura de transmissão e armazenamento para garantir que a geração intermitente de fontes como a solar e a eólica seja capaz de atender à demanda de forma confiável e eficiente. No Brasil, isso inclui investimentos para expandir as redes de transmissão e tornar a infraestrutura elétrica mais robusta e preparada para eventos climáticos extremos.
O relatório também projeta um aumento significativo na demanda por eletricidade até 2035, impulsionado pela eletrificação dos transportes, expansão de data centers e pelo uso crescente de sistemas de refrigeração. Esse crescimento da demanda coloca uma pressão ainda maior nos países emergentes e em desenvolvimento, incluindo o Brasil, para que ampliem suas capacidades de geração limpa e de transmissão. Além disso, a dependência de recursos como o gás natural para complementar a geração hidrelétrica em períodos de seca permanece como um desafio. O WEO alerta para a necessidade de diversificação e para o desenvolvimento de uma matriz energética que reduza a vulnerabilidade a eventos climáticos extremos.
Um dos pontos críticos destacados pelo WEO 2024 é a competição entre os combustíveis fósseis e as tecnologias de energia limpa. Com a queda recente nos preços de petróleo e gás, muitos países estão enfrentando o dilema de continuar investindo em combustíveis fósseis ou redobrar esforços em energias renováveis. Para o Brasil, a transição energética precisa equilibrar a continuidade do uso de recursos fósseis em um curto prazo, ao mesmo tempo que avança para expandir suas fontes renováveis de maneira sustentada e econômica. Isso significa aumentar a produção de energia solar e eólica, além de investir em tecnologias de armazenamento e transmissão que possam substituir gradualmente as fontes fósseis.
O relatório também chama atenção para o impacto das mudanças climáticas sobre a segurança energética. Ondas de calor, secas e eventos extremos estão aumentando em frequência e intensidade, elevando a demanda por eletricidade e testando os limites das infraestruturas de muitos países. O Brasil, sendo altamente dependente de energia hidrelétrica, precisa de uma estratégia resiliente para enfrentar esse cenário. A integração de novas tecnologias, como baterias e microrredes, pode ajudar a tornar o sistema elétrico mais robusto e capaz de responder a crises, mantendo a continuidade do fornecimento mesmo em situações adversas.
Por fim, o relatório destaca que uma transição energética bem-sucedida precisa ser inclusiva e acessível para todos. A expansão das energias limpas deve considerar as desigualdades econômicas e garantir que os benefícios das novas tecnologias sejam distribuídos de forma equitativa. No Brasil, isso significa promover políticas que incentivem a geração distribuída, possibilitando que os consumidores residenciais e de pequeno porte tenham acesso a fontes renováveis de maneira econômica. Além disso, a educação sobre o uso eficiente de energia é crucial para envolver a população no esforço de uma transição sustentável.
A Série Energia tem apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA), que produziu este episódio com Murilo Miceno Frigo, discente de doutorado e professor do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS). A coprodução é de Ferraz Junior e edição da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.