“Série Energia”: As lições que os recentes apagões em São Paulo nos deixam

Fortalecer a infraestrutura energética, gerenciar a vegetação da cidade e adotar “microgrids” podem ser alternativas eficientes para mitigar os apagões

 Publicado: 25/10/2024 às 13:00
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Foto mostra uma rua de cidade à noite, durante apagão, apenas com a luz dos carros
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
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As lições deixadas pelo apagão que atingiu a Grande São Paulo recentemente nos leva a refletir e discutir possíveis soluções para tornar nosso sistema elétrico mais resiliente. As frequentes interrupções de energia, muitas vezes causadas por eventos climáticos extremos, como o vendaval recente, destacam a vulnerabilidade da nossa infraestrutura elétrica e a urgência de modernizá-la.

A primeira grande lição desse apagão é a necessidade de fortalecer nossa rede elétrica contra eventos climáticos extremos. Vendavais, tempestades e inundações estão se tornando mais comuns devido às mudanças climáticas, e nosso sistema precisa ser capaz de resistir a esses impactos. Redes inteligentes, monitoramento em tempo real e tecnologias de automação são fundamentais para identificar falhas de forma rápida e corrigir os problemas sem grandes interrupções​.

Outro ponto crucial que aprendemos é a importância de um gerenciamento adequado da vegetação. Durante o apagão, muitas quedas de árvores causaram danos severos às linhas de transmissão, o que agravou a situação. A coordenação entre as concessionárias e as Prefeituras é essencial para garantir podas preventivas e evitar que árvores cresçam próximas às redes elétricas. Uma gestão eficiente da vegetação urbana pode ser uma das chaves para mitigar os impactos de tempestades sobre a rede​.

Diante desse cenário, surgem questionamentos sobre o futuro da nossa infraestrutura elétrica. Será que o Brasil poderia considerar a implementação de microgrids para mitigar os efeitos de apagões em larga escala? Microgrids, ou microrredes, são sistemas de geração de energia local que podem operar de forma independente da rede principal. Em casos de falhas na transmissão, essas redes locais podem continuar a fornecer eletricidade para áreas críticas, como hospitais e outros serviços essenciais. Mas a adoção de microgrids em larga escala no Brasil é viável? Quais seriam os desafios econômicos e técnicos para sua implementação?​

Outro ponto que pode ser avaliado é o uso de redes subterrâneas em áreas urbanas densamente povoadas. Redes elétricas subterrâneas são protegidas contra intempéries e quedas de árvores, mas exigem investimentos substanciais e complexidade técnica para sua instalação e manutenção. Esse tipo de infraestrutura poderia ajudar a evitar situações como a que ocorreu em São Paulo, mas será que esses custos se justificam em uma realidade como a nossa? Essas perguntas ficam no ar, mas são certamente alternativas a serem consideradas​.

Além das soluções técnicas, a crise revelou a importância de uma comunicação clara e eficaz com a população. Durante o apagão, muitos consumidores enfrentaram dificuldades para obter informações precisas sobre o retorno da energia. Isso mostra a necessidade de melhorar os canais de comunicação das concessionárias, garantindo que os consumidores saibam o que esperar em momentos de crise. Informação rápida e confiável é essencial para reduzir a frustração em momentos críticos​.

Finalmente, a questão da fiscalização. A Aneel e o Ministério de Minas e Energia precisam desempenhar um papel mais ativo na garantia de que concessionárias como a Enel estejam preparadas para enfrentar crises. Reduzir o número de funcionários e não investir adequadamente na infraestrutura de emergência são fatores que agravam a resposta a situações críticas. Para evitar futuros apagões, é fundamental que haja uma fiscalização mais rigorosa e incentivos para a modernização contínua da rede elétrica​.

Este apagão nos deixa muitas lições. Sejam microgrids, redes subterrâneas ou melhor gestão da vegetação, o Brasil precisa olhar para o futuro e investir em soluções que garantam a resiliência do nosso sistema elétrico. 

A Série Energia tem apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA) que coproduziu com Ferraz Junior e a edição é da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.


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