Rubens Ricciardi faz palestra sobre identitarismo neoliberal na Feira Internacional do Livro

O evento será realizado no próximo domingo (11/8), no auditório da Biblioteca Sinhá Junqueira, tem entrada gratuita e o tema remete ao seu livro lançado no final de 2023

 09/08/2024 - Publicado há 4 meses
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Homem branco com imagem da capa de um livro ao lado
Professor Rubens Russomanno Ricciardi e a capa do livro Contra o identitarismo neoliberal – Um ensaio de poíesis crítica pela apologia das artes – Imagem: Arquivo pessoal/Divulgação

Na programação da Feira Internacional do Livro (FIL) neste final de semana, tem palestra com o professor Rubens Russomanno Ricciardi, do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, sobre o tema Contra o identitarismo neoliberal – um ensaio de poíesis crítica pela apologia das artes. A palestra será no domingo (11/8), às 17h, no Auditório da Biblioteca Sinhá Junqueira, localizada na Rua Duque de Caxias, 547, no centro da cidade, com entrada gratuita.

No evento o professor e pesquisador apresenta poíesis crítica, tema de sua obra que tem o mesmo título da palestra. O poíesis crítica traz uma abordagem filosófica das artes, proposta pelo Núcleo de Pesquisa em Ciências da Performance (NAP-Cipem) da FFCLRP, que integra elementos hermenêuticos, dialéticos, existenciais e críticos, focando na criação artística como um processo crítico e inventivo. Sobre a obra, o professor destaca que um comentário unânime é a de que ela causa certo descômodo, porque inverte o sentido de alguns conceitos – de benéficos para problemáticos. “Na ditadura da opinião pública, por exemplo, cristalizou-se um sentido positivo para cultura, estética, comunicação e identidade, daí eu caminho em direção oposta: são quatro neologismos do Iluminismo que invariavelmente deturpam o conhecimento, pois prejudicam a elaboração de linguagens de fato inventivas e nos afastam de reconhecer as ideologias mais repressoras. A humanidade pensava melhor sem estes quatro conceitos. Mas depois há leitores reconhecendo que as minhas críticas procedem”, avalia.

O professor explica que no livro é muito valorizada a natureza e não é usado o termo criação para obras humanas. “Quem cria é a natureza, o ser humano só inventa. Não há ser humano capaz de criar um buraco negro, uma estrela, um planeta – nem mesmo um vulcão ou uma floresta. Então nós criticamos o autoproclamado homo criativus, porque ele se tornou de fato um homo stultus. Quem se autoproclama criativo destrói a natureza porque se considera capaz de substituí-la”, diz Ricciardi. O professor também acrescenta que é presunção demais e modéstia de menos, por isso, a poíesis crítica retoma conceitos tais como: a poíesis humana (obras inventadas pelo ser humano) e poíesis da phýsis (criação da natureza em toda a sua monumentalidade e harmonia, das quais estamos ainda longe de compreender e respeitar). “Está tudo claro como a luz do dia? Talvez não: por conta das relações sociais ainda mais precarizadas com o neoliberalismo, estamos indo mal tanto em questões da linguagem como da ideologia. Vivemos em meio ao kitsch e não somos capazes de lutar contra a arbitrariedade.”

O livro também menciona a crítica ao eurocentrismo, à decolonialidade e às ideologias neoliberais e como seria essa abordagem no contexto atual das artes e da cultura. Segundo o professor, “com o neoliberalismo, a cultura, contracultura e indústria da cultura tornaram-se uma só. Então as artes precisam se abrigar numa pasta própria, cultura é comunicação e arte é linguagem. Temos nas artes um mundo do trabalho que transcende as amarras redutivas da cultura. As artes precisam se libertar das políticas culturais.”

Para finalizar, Ricciardi afirma que “os identitários são tigrões de ódio contra as artes milenares, mas são tchutchucas de amores a favor da indústria da cultura ianque-estadunidense. Os identitários criticam aqueles que definem as grandes artes como universais. Na realidade, entretanto, para os identitários, só a indústria da cultura ianque-estadunidense é universal – até as artes populares brasileiras foram invisibilizadas”.

*Estagiária sob supervisão de Rose Talamone


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