Celular preparado, busca pelo melhor ângulo e iluminação, diversas poses com sorrisos e “biquinhos” e a selfie perfeita está pronta. Certo? Para a maioria das meninas com idade entre 10 e 17 anos não, pois precisam usar filtros para editar suas fotos que serão postadas – ou não – nas redes sociais. Essa realidade é comprovada por pesquisa feita por uma marca de produtos para higiene pessoal com cerca de 500 meninas brasileiras no final do ano passado. Nessa pesquisa, 89% das entrevistadas disseram que publicam um conteúdo nas redes sociais esperando uma “aprovação”. E 35% das meninas afirmam se sentir “menos bonitas” ao verem fotos e vídeos de celebridades na internet.
Para a professora Maria Fernanda Laus, do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, “a insatisfação com a aparência é mediada pela comparação social, ou seja, existe a tendência em comparar a nossa aparência com a de outras pessoas que julgamos superiores, neste caso, pessoas que se enquadram no padrão de beleza socialmente aceito”.
Prejuízos
A professora relembra que a utilização do Photoshop (programa de edição de imagens) sempre foi alvo de críticas por criar imagens irreais. Hoje, as ferramentas de edição estão disponíveis para todo mundo, “o que pode criar uma sensação de perfeição nas redes sociais que não é compatível com a realidade”.
E essa busca incessante pelo famigerado “padrão estético de beleza” pode trazer prejuízos para a saúde mental dessas jovens, porque as pessoas dão grande importância à aparência física e acreditam que a aparência é o aspecto central para conquistar o sucesso em todas as esferas da vida, ressalta Maria Fernanda.
Segundo a professora, essas garotas tendem a desenvolver comportamentos deletérios à saúde na busca por uma imagem perfeita, como comportamento alimentar transtornado, uso de laxantes ou diuréticos, busca por cirurgias plásticas, além de passarem um grande sofrimento psicossocial, como a baixa autoestima, isolamento, ansiedade, depressão e até mesmo tentativa de suicídio.
Aumentando a autoestima
Conseguir superar problemas como esses é essencial para que a jovem tenha uma melhor qualidade de vida, mas não é uma tarefa fácil. Conta a professora que a autoestima começa a ser formada na infância, mas não é uma característica imutável. Durante a adolescência, existe uma relação muito forte com a saúde mental, maiores níveis de rendimento escolar e aprovação social.
Uma autoestima mais alta surge a partir do reconhecimento positivo pelas pessoas importantes e relevantes na vida do jovem. Maria Fernanda garante que um ambiente de segurança e aceitação pode promover um aumento na autoestima. “É possível que a gente melhore a autoestima dessas garotas por meio de intervenções ou proporcionando um ambiente seguro e de pertencimento.”
Especialista em imagem corporal, a professora destaca que enfatizar outros aspectos relacionados ao corpo, além da aparência física, pode ajudar nesta busca pelo aumento da autoestima. Além disso, é preciso ensinar as crianças a desenvolverem um filtro de proteção contra as imagens idealizadas da mídia e a valorizarem as qualidades ao invés das imperfeições. “É necessário mostrar para a criança que está tudo bem não gostar de uma característica física, que essa característica não a define como pessoa”, destaca.
E nessa busca pela autoaceitação, a família também tem papel fundamental, já que é considerada o primeiro agente socializador das crianças e “os filhos tendem a imitar o comportamento dos pais”. Segundo a professora, pesquisas mostram que pais muito vaidosos têm filhos que também se preocupam muito com o próprio corpo. E nessa relação, é importante que os pais conversem com as crianças, “mostrando que muitas das imagens que aparecem nas redes sociais e nos meios de comunicação são editadas e que não existe um único padrão de beleza”.