Indústria da moda e do entretenimento impacta saúde física e mental da sociedade

O estereótipo criado por marcas internacionais influencia pessoas a atingirem padrões de beleza irreais, gerando transtornos alimentares e abuso de medicações, diz especialista

 12/11/2024 - Publicado há 4 meses
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Imagem de modelos magras, altas e loiras nos desfiles começou a ser um padrão aceito do que era conhecido como belo – Foto: Darkspots/Wikimedia Commons/Domínio público
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O Victoria ‘s Secret Fashion Show, desfile de moda da marca de lingerie americana, apresenta anualmente as coleções do ano com a presença de modelos, cantores e críticos de moda. O evento ficou suspenso por cinco anos por conta da reprovação da audiência pela falta de diversidade de corpos e por sexismo. O desfile voltou neste ano, em Nova York, com a inclusão de mulheres trans, modelos plus size, mid size e veteranas. A retomada gerou debates nas redes sociais em que muitos internautas falaram sobre o padrão de beleza imposto pela indústria da moda e do entretenimento, e como isso tem afetado os próprios corpos. 

Mulher branca de óculos, cabelos claros e curtos, sorrindo e com roupa estampada
Claudia Garcia – Foto: Arquivo Pessoal

Esse padrão de beleza de modelos magras e loiras começou a surgir a partir da década de 60 e gerou grande impacto com a chegada dos desfiles, devido a grande cobertura midiática, o que ajudou a construir o estereótipo no imaginário das pessoas, segundo a professora de Têxtil e Moda Cláudia Regina Garcia Vicentini, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. “Esse estilo de vida surgiu no início da década de 60 e se consolidou na década de 90. Nessa época, nós tínhamos as estrelas de cinema como detentoras do que era moda, bom gosto e beleza. As pessoas iam ao cinema, compravam revistas que falavam daqueles filmes, das vidas das atrizes e toda essa construção imagética acabava reiterando os sonhos das pessoas em se tornarem iguais àquelas celebridades.”

Não eram só as atrizes famosas, mas os estilistas também passaram a se tornar detentores da moda, diz a professora. “Os estilistas se tornaram uma referência do que é bonito, o que usar, vestir, fazer, onde ir. Por isso, a imagem dessas modelos magras, altas e loiras nos desfiles começou a ser um padrão aceito do que era conhecido como belo.”

Essas tendências do mundo da moda acabaram se perpetuando até os dias de hoje por meio do cinema, streamings e redes sociais, afetando a saúde física e mental de muitas pessoas. A psicóloga Amanda Cabrera, especialista em comportamento alimentar, analisa que em um desfile como o da Victoria’s Secret, que é tão renomado, conhecido e famoso, estabelece um padrão de beleza que não é tão comum para a sociedade e as pessoas acabam entendendo que ser belo e estar na moda é estar dentro desses padrões. “O problema é que, na grande maioria das vezes, são poucas mulheres, principalmente considerando a nacionalidade brasileira, que são tão magras e altas. Isso causa uma frustração muito grande e a busca incessante por atingir esses padrões pode gerar transtornos alimentares, abuso de medicações, cirurgias plásticas, procedimentos estéticos e dietas restritivas, que causam diversos problemas emocionais e também físicos.” 

Para Cláudia, o equilíbrio entre estética e saúde é entender que nós somos indivíduos únicos e que devemos fazer escolhas mais saudáveis. “Temos que deixar de lado as pressões estéticas estereotipadas com as quais somos bombardeados o tempo todo. Isso não é fácil, as pressões das mais variadas formas para que sejamos de uma determinada maneira são muito grandes. É preciso muito equilíbrio, conversa e discussão sobre esses processos, principalmente entre os jovens e adolescentes.”

Influências negativas

Mulher branca, com cabelos escuros e longos, com camisa branca, uma das mãos apoiada no rosto e o cotovelo numa mesa clara.
Amanda Cabrera – Foto: Arquivo pessoal

Para reduzir a influência negativa da indústria da moda e do entretenimento é necessário uma abordagem coletiva, tanto das mídias quanto do governo, sociedade, escolas e famílias, diz a psicóloga. “Trabalhar a conscientização da diversidade corporal, usar corpos reais nos desfiles, falar sobre saúde, e em como as modelos, muitas vezes, trazem na mídia o quanto sofriam para se manter no peso, poder desfilar e toda a pressão. Precisamos que os influenciadores digitais compartilhem um conteúdo mais realista e autêntico, mostrando o corpo real, sem edição e filtro.”

Amanda aponta que é necessário ficar atento aos sinais de que uma pessoa está sendo afetada pela pressão estética. A obsessão com a aparência e o peso, mudança de hábitos alimentares, comparação excessiva e evitar eventos sociais podem ser alguns sinais. Por isso, segundo a psicóloga, o ideal é buscar ajuda, por meio de uma rede de apoio e profissionais da área da saúde, para que seja possível melhorar a relação com o seu corpo e buscar autoaceitação. “Um dos principais fatores é tomar cuidado com as comparações nas redes sociais, deixar de seguir aquela blogueira, influencer ou mesmo aquela amiga que fica postando muito sobre o corpo e que te gera um sentimento negativo”, afirma.

*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone

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