![Donald Trump com as mãos apoiadas no púlpito de evento de campanha, olhando para seu lado esquerdo com plateia desfocada ao fundo.](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2023/08/20230807_donald-trump.jpg)
A eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos (EUA), com posse prevista para janeiro de 2025, se confirmada pelo Colégio Eleitoral, trouxe incertezas sobre o futuro das exportações brasileiras, especialmente da região de Ribeirão Preto. Conhecida por sua força no agronegócio e no setor de produtos industrializados, a região poderá enfrentar tanto desafios quanto oportunidades com as políticas protecionistas que marcaram o primeiro mandato de Trump.
No primeiro semestre de 2024 as exportações brasileiras para os EUA atingiram um recorde de US$ 19,2 bilhões, um aumento de 12% em relação ao ano anterior, o que reforça a importância do mercado norte-americano para os produtores e indústrias do Brasil. Contudo, especialistas apontam que a postura de Trump em relação ao comércio internacional pode alterar significativamente esse cenário.
![Na imagem homem branco, calvo, de barba e bigode grisalhos, de óculos e terno com gravata rosa escuro](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2019/04/20190503_umberto_celli_junior-300x158.jpg)
Segundo Umberto Celli Junior, professor de Direito Internacional na Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, as exportações brasileiras de produtos industrializados podem enfrentar barreiras significativas. “No primeiro mandato, Trump mostrou total desprezo por instituições como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e adotou medidas protecionistas que prejudicaram o Brasil, como tarifas sobre aço e alumínio. Nada indica que ele não seguirá o mesmo caminho”, afirma o professorCelli, que também ressalta que os Estados Unidos têm pressionado para que o Brasil deixe de ser tratado como país em desenvolvimento. “Se essa política avançar, perderemos benefícios como isenções tarifárias, o que aumentará os custos das exportações e diminuirá nossa competitividade em setores-chave.”
Oportunidades para o agronegócio
Enquanto a indústria enfrenta desafios, o agronegócio pode ser beneficiado. Marcos Fava Neves, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) e especialista em agronegócio, destaca que a imposição de tarifas contra produtos chineses pelos Estados Unidos tende a favorecer as exportações brasileiras de commodities. “Se Trump repetir a política de 2018, a China deve retaliar, comprando mais soja, milho e algodão do Brasil. Isso pode gerar preços mais altos no mercado interno, beneficiando os produtores locais”, analisa Fava Neves. O crescimento das exportações de café não torrado (44%) e celulose (22%) para os EUA no primeiro semestre de 2024 reforça o potencial do agronegócio na região. “Esses números demonstram como os produtores brasileiros podem aproveitar a demanda crescente em momentos de tensão comercial entre EUA e China”, diz o especialista.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2022/08/20220812_-Marcos-Fava-Neves.jpg)
Além das questões econômicas, a relação política entre os dois países também gera preocupação. “O clima de animosidade entre os presidentes Lula e Trump pode intensificar as pressões sobre o Brasil, principalmente devido à proximidade com a China e ao papel ativo do Brasil no Brics (agrupamento político e econômico de cinco países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)”, avalia Celli. O professor lembra que, durante o primeiro mandato do governo Trump, os Estados Unidos demonstraram desconforto com iniciativas como a criação de uma moeda comum no Brics e os investimentos chineses na América Latina. “Essas questões, somadas ao contexto de maior protecionismo, podem aumentar as dificuldades para os exportadores brasileiros”, alerta.
Os especialistas são unânimes em afirmar que, com a posse de Trump, em janeiro de 2025, o Brasil precisará adotar uma abordagem estratégica para lidar com as mudanças no comércio internacional. Enquanto o agronegócio pode prosperar em meio às tensões entre EUA e China, a indústria brasileira enfrentará desafios para manter sua competitividade. “A nova gestão americana exigirá do Brasil uma postura pragmática, conciliando interesses comerciais e geopolíticos. O sucesso dependerá de como conseguiremos equilibrar nossa relação com os Estados Unidos e outros parceiros estratégicos, como a China”, conclui Fava Neves.
Por: Ferraz Junior e Rose Talamone
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