O dito popular “você é aquilo que come” pode ganhar maior sentido com os resultados de pesquisas sobre a influência da alimentação na saúde mental. Segundo Rosane Pilot Pessa, professora do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, a relação entre as duas áreas é “bem direta” e estudos indicam que doenças psiquiátricas, como a depressão e a esquizofrenia, por exemplo, agem no organismo “como se fossem uma doença como diabete, ou seja, ocorrendo um processo de inflamação sistêmica”.
Qual a relação entre nutrição e saúde mental?
Com a relação direta entre os alimentos e a mente, a especialista da USP acredita no nutricionista como “um profissional fundamental na equipe de tratamento das doenças que afetam o sistema mental”. A alimentação, argumenta a professora, é representada por significados afetivos e culturais, razão pela qual o nutricionista deve auxiliar o paciente a melhor se relacionar com a comida, colaborando no planejamento alimentar que beneficie a saúde física e a mental.
Com o objetivo amplo de cuidados, Rosane diz que a dieta deve incluir itens que façam parte da história e rotina do indivíduo, dando “significado especial para a alimentação”. Dessa forma, acredita a professora, tanto a fome física quanto a emocional do paciente serão saciadas.
Mas, ainda assim, Rosane esclarece que apenas a alimentação adequada e saudável não é suficiente. Para manter uma boa saúde mental, é preciso considerar um estilo de vida que inclua atividades físicas e tempo de qualidade para atividades prazerosas e sociais.
Quais alimentos são utilizados para melhorar a saúde mental?
Especialista em nutrição e saúde mental, Rosane diz que, embora não existam alimentos milagrosos ou específicos para a saúde mental, alguns nutrientes são importantes para o metabolismo cerebral, como o aminoácido triptofano; os ácidos graxos ômega 3 e 6; as vitaminas do complexo B e minerais como o magnésio e o zinco. Esses nutrientes são encontrados, principalmente, no grupo das carnes, peixes, ovos e leite; em leguminosas como o feijão e a soja; nas castanhas, nozes e cacau, além das frutas e vegetais.
Assim, garante a professora, esses alimentos também ajudam a prevenir e tratar transtornos mentais, pois “atuam na produção de hormônios e outras substâncias que promovem a saúde mental e o bem-estar de maneira geral”. Apesar de admitir que não existem alimentos inadequados para uma boa saúde mental, Rosane adianta que o excesso de itens industrializados, ultraprocessados, açucarados, gordurosos, com acidulantes e conservantes “podem piorar os sintomas emocionais advindos de doenças psiquiátricas”.
E, para uma alimentação mais prazerosa e de qualidade, o Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde recomenda realizar as refeições diárias sempre em horários semelhantes e com atenção aos alimentos; se alimentar em ambientes limpos, confortáveis e tranquilos e, quando possível, comer junto à companhia de pessoas queridas.