Amazônia é destaque em mostra da Biblioteca Brasiliana da USP

A exposição apresenta livros escritos por naturalistas, etnólogos, aventureiros e empreendedores, no final do século XIX e começo do XX, e também por escritores, artistas e pensadores indígenas nas últimas décadas

 Publicado: 04/06/2024
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Até o dia 28 de junho, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP apresenta ao público a mostra Amazônia no acervo BBM, que exibe obras marcantes do momento histórico e editorial no qual houve uma explosão de publicações de livros sobre a Amazônia, escritos e ilustrados por naturalistas, etnólogos, aventureiros e empreendedores – entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX – e as conecta a algumas produções mais recentes, nas quais escritores, artistas e pensadores indígenas se apropriam do papel e da escrita para revelar os seus próprios mundos em obras mais abertas ao que a Amazônia têm produzido nas últimas décadas. A visitação é gratuita, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h30. Para grupos o agendamento é feito em mediacaobbm@usp.br.

Uma das imagens da mostra: um jovem do povo Katukina caçando com sua zarabatana. Ilustração de do livro de Algot Lange (1884-1961), In the Amazon Jungle, 1912

A ideia da mostra surgiu a partir da constatação de que no acervo BBM há materiais abundantes e variados sobre a Amazônia, sendo possível dizer que há uma subcoleção, que poderia ser chamada de Amazoniana, a qual parece não ser suficientemente conhecida e que tem o potencial de contribuir com pesquisas de diversas disciplinas sobre a região. Sendo assim, o objetivo é revelar justamente parte dessa coleção e sua importância.

“Nos últimos anos, a Amazônia tem sido centro de muitos debates, em razão das ameaças que o bioma e suas populações tradicionais têm sofrido por parte do garimpo ilegal e mineração, pelo desmatamento promovido pelo agronegócio, por projetos desenvolvimentistas que não levam em conta questões socioambientais locais, pelos eventos climáticos extremos associados ao aquecimento global etc.”, comenta o especialista em pesquisa da BBM, João Cardoso, que também é coordenador da equipe de mediação cultural da Biblioteca.

Para Cardoso, levar o público a notícia desses livros “pode mostrar como esses documentos têm o potencial de intervir nesse debate ao trazer mais informações sobre a importância e o valor da diversidade social e ambiental da região, assim como sobre os processos históricos que atravessaram a Amazônia nos últimos séculos”.

O público poderá ver na mostra cerca de 20 obras, como um dos títulos do alemão Theodor Koch-Grünber (1872-1924): Zwei Jahre unter den Indianern (Dois anos entre os índios); Xingu: território tribal, da fotógrafa brasileira Maurren Bisilliat (1931-); Rã-txa hu-ni-ku-ĩ: a língua dos caxinauás do Rio Ibuaçu affluente do Muru (Prefeitura de Tarauacá), do historiador brasileiro João Capistrano de Abreu (1853-1927); História de Kamawene, de Feliciano Pimentel Lana (1937-2020), artista plástico, escritor e líder indígena; e Mitopoemas Yãnomam, de Claudia Andujar (1931-), uma fotógrafa e ativista suíça, naturalizada brasileira.

Algumas das obras expostas estão disponíveis gratuitamente no acervo da BBM Digital, por exemplo, a de João Capistrano de Abreu.

Ilustração de História de Klamawene, de Feliciano Pimentel Lana (1937-2020)


Contexto histórico


Esse processo em que houve uma explosão de publicações de livros sobre a Amazônia, não por acaso, ocorreu paralelamente ao início da exploração econômica em larga escala da borracha. Uma nova fase da exploração colonial-capitalista abriu as possibilidades para que a Amazônia fosse divulgada ao Ocidente em escala até então inédita.

Entre os polos da fantasia exotista e do pragmatismo colonizador, desponta a diversidade esplendorosa da Amazônia, que se encontra tanto em suas espécies vegetais e animais, quanto nas centenas de povos originários, com suas línguas, conhecimentos e práticas. Nas páginas dos livros centenários, a sociobiodiversidade amazônica resiste, muitas vezes a despeito dos projetos político-epistemológicos de seus autores.

“Quer dizer que perceber essas obras na chave crítica de suas premissas colonialistas não impede de valorizar seu legado para o conhecimento da Amazônia e de seus habitantes”, como é ressaltado pela curadoria da exposição.

A mostra Amazônia no acervo BBM conecta essa face positiva dos livros expostos a uma produção mais recente, em que emergem obras mais abertas ao que a Amazônia tem a revelar. Pois, é preciso prestar atenção ao que escritores, artistas e pensadores indígenas têm expressado em livros, como têm se apropriado das tecnologias dos brancos, da escrita alfabética ao audiovisual, para revelar os seus mundos.

“Entre as muitas coisas que temos a aprender com o que essas pessoas têm a nos mostrar são as possibilidades que nós, ocidentalizados, temos de nos civilizar em outras bases. Não é preciso civilizar a Amazônia indígena, ribeirinha e quilombola, mas abrir espaço para que ela nos civilize”, destaca a curadoria.

Embarcações do Amazonas e Rio Negro: ao longo dos séculos de colonização europeia, a Amazônia recebeu muitas levas de forasteiros. A partir das últimas décadas do século XIX, embarcações cada vez mais numerosas e maiores penetravam os rios amazônicos em busca das riquezas da floresta. Nesse período, a borracha foi o que mais impulsionou a exploração da região

 

Serviço

Mostra Amazônia no acervo BBM
Quando: até 28/06, das 8h30 às 18h30, de segunda a sexta-feira
Onde: andar térreo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, Rua da Biblioteca, 21 – Cidade Universitária, São Paulo

A visitação à mostra Amazônia no acervo BBM é gratuita, sem necessidade de agendamento prévio. Mas é possível solicitar uma visita mediada com a equipe de mediação cultural da BBM pelo e-mail mediacaobbm@usp.br ou telefone (11) 2648-0316.


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