Estima-se que a economia circular possa gerar cerca de 4,8 milhões de empregos na América Latina e no Caribe, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Mas, para se tornar uma solução, é preciso haver estratégias bem definidas por parte de empresas e governos. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Tereza Cristina Carvalho, do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica (Poli) da USP, pesquisadora nas áreas de tecnologias digitais, inovação sustentável e economia circular, explica o assunto.
Na economia circular, é necessário considerar primeiramente o resíduo como algo de valor, segundo a pesquisadora. Ela conta o exemplo do Programa Páideia, voltado para jovens entre 16 e 20 anos de baixa renda. “Uma pessoa que começou a assistir às aulas de economia circular ficou apaixonada pelo tema e resolveu criar objetos de decoração para casas, como transformar uma roda de bicicleta em um lustre. Hoje, essa pessoa tem uma empresa com dois funcionários, com um prazo de um ano e meio.”
Outro exemplo que Tereza comenta é de uma empresa que utiliza um mecanismo de troca de roupas. Pensando na ideia de que bebês trocam de tamanho de roupa em período de tempo curto, o cliente pode comprar a roupa nessa loja e, quando não servir na criança, o cliente consegue vender a roupa para o mesmo estabelecimento e comprar outra peça de um tamanho maior.
“Eu vejo na economia circular novas perspectivas de novos negócios e novas posições de trabalho. Na prática, toda empresa que gera resíduo, ao invés de procurar descartar, ela poderia verificar a possibilidade de reaproveitar esse resíduo no negócio ou gerar outro negócio”, aponta Tereza.
A USP e o Cedir
A pesquisadora explica que, na USP, também é aplicada a economia circular, como no Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir). Nesse projeto, a equipe recebe computadores usados e faz a remanufatura dos aparelhos. “Colocamos mais memória, mais discos, ou de dois computadores criamos o terceiro. O Cedir atende a comunidade USP e outros projetos sociais.”
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) contempla a questão da economia circular, e o governo está começando a tomar algumas iniciativas nessa área, como o exemplo dos resíduos eletrônicos. Antes o governo fazia leilão desses materiais, este ano ele fez alguns descartes para o Cedir. O governo reconheceu que há muitos materiais que podem ser utilizados em remanufaturas, auxiliando no processo de inclusão digital, questão que ficou mais evidente com a pandemia da covid-19.
“Muitas pessoas estão despertando para a economia circular. A premissa dessa área é o ‘ecodesign’: fazer o projeto do produto pensando no ciclo final de vida dele ser reciclado ou entrar em outra cadeia produtiva. A questão é o empresário ser criativo e gerar novos produtos.”
A pesquisadora atenta para a análise dos produtos para a reciclagem, como não utilizar substâncias tóxicas e pensar em utilizar menos materiais na cadeia produtiva. “Por exemplo: em um computador podem ser encontrados cerca de sete tipos de plástico. Se o fabricante produzir um ou dois tipos apenas, será facilitado o processo de reciclagem”, destaca Tereza.
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