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O brasileiro já criou o costume de conviver com o risco de epidemias de dengue, zika e chikungunya durante períodos de chuva, principalmente no verão. Agora se encontra em frente ao risco de contaminação por mais um vírus, o Mayaro – quais as preocupações que se levantam disso?
Conhecido desde os anos 50, o Mayaro até então era tido como um vírus restrito à região amazônica, transmitido por mosquitos típicos de matas, do gênero Haemagogus, conta o professor Expedito Luna, do Laboratório de Epidemiologia do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP. No entanto, ele explica que estudos mostraram recentemente a ocorrência de casos em diferentes regiões para além da Amazônia e a possibilidade de mosquitos urbanos transmitirem o vírus, como os dos gêneros Aedes e Culex.
“É preocupante, porque conhecemos pouco sobre todo o espectro causado pela doença do vírus Mayaro. Já convivíamos com a dengue, passamos a conviver com zika e chikungunya, e agora temos mais um enquanto nossa rede de saúde pública continua despreparada para fazer esse diagnóstico”, comenta.
O vírus Mayaro é classificado popularmente como “primo do chikungunya” devido à semelhança dos sintomas das doenças que eles provocam. O professor Expedito Luna explica que ambas causam um comprometimento das articulações, uma espécie de artrite que pode se manter crônica mesmo após o término da fase aguda da doença.
Ele divide em três principais tópicos as medidas que devem ser tomadas para lidar com o alerta gerado pela presença do Mayaro fora da Amazônia. Primeiramente, e mais importante, é necessário se ampliar a rede de diagnósticos dessas doenças. O SUS costuma argumentar que, pelo fato de serem epidemias gigantescas, a capacidade dos laboratórios é excedida. No entanto, o professor diz que essas epidemias são previsíveis porque já acontecem regularmente há muitos anos, e os Estados continuam despreparados para fornecer o diagnóstico virológico.
Além disso, é necessário um trabalho por parte das universidades e hospitais universitários. “É preciso descrever melhor essa doença para que consigamos compreendê-la e para aprendermos a tratar melhor os pacientes, evitando que ela evolua”, complementa. A última medida descrita tem caráter coletivo porque o agente é a própria população. O professor reforça a necessidade de se tentar controlar a disseminação dos vetores responsáveis pela transmissão dessas doenças e tomar ações de proteção individual, como uso de repelentes e mosquiteiros em casa, principalmente se o indivíduo está próximo a regiões de mata.