
Documento da Sociedade Americana do Câncer mostra uma incidência 82% maior de casos da doença nas mulheres em relação aos homens. O aumento nas mulheres de meia idade, se comparado aos homens, é ligeiramente maior. Já entre as jovens, as mulheres têm duas vezes mais probabilidade de serem diagnosticadas com a doença do que os representantes do sexo masculino.
Maria Del Pilar Estevez, professora e diretora do corpo clínico e coordenadora de Oncologia Clínica do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), diz que esse acompanhamento é muito importante, porque permite uma identificação precoce da doença e cita os dois tipos de câncer prevalentes entre as mulheres. “Esse acompanhamento da incidência e mortalidade por câncer, que é feito sistematicamente nos Estados Unidos e também no Brasil, é muito importante para a identificação das tendências, para que nós possamos estabelecer políticas de rastreamento e diagnóstico precoce e ajustar essa política ao longo dos anos. Quando nós olhamos para a incidência global de câncer, ela é um pouco maior em homens, mas em jovens essa diferença desaparece.”
Essa discrepância pode estar ocorrendo devido ao fato de que o câncer de próstata, o mais comum entre os homens, é muito pouco frequente antes dos 50 anos de idade. Outro fator que pode explicar esse resultado é uma questão importante, a redução do tabagismo em homens, que também contribuiu para a redução da incidência de câncer de pulmão nessa população.

A professora destaca que, “quando nós olhamos esse trabalho que foi apresentado, o aumento da incidência de câncer em indivíduos com menos de 50 anos, na mulher se dá basicamente devido ao aumento do câncer de mama e ao câncer de tireoide”. Vários fatores contribuem para o aumento da doença. “Para o câncer de mama, nós temos vários fatores. Alguns estão relacionados a questões mais de estrutura social, como baixa paridade ou nenhuma paridade. As famílias são cada vez menores. As mulheres, por uma questão social, muitas vezes amamenta pouco tempo ou não amamenta e elas têm uma tendência a ter filhos em idade mais alta e nós sabemos que ter muitos filhos, amamentar e ter filhos jovens eram fatores protetores para o câncer de mama. Dois outros fatores que são muito relevantes é a falta de atividade física, que é muito comum na vida moderna, e o aumento do consumo de álcool, principalmente em mulheres jovens. Todos esses são fatores de aumento de risco para o câncer de mama. Com relação ao câncer de tireoide, uma coisa que se especula é que pode haver um aumento do diagnóstico de lesões de tireoide que não são clinicamente relevantes, isso precisa ser avaliado melhor”.
Ações preventivas
Algumas ações podem contribuir para um resultado positivo na reversão do quadro apresentado pelo relatório da Sociedade Americana do Câncer. “Acredito que duas ações são muito importantes: primeiro a mudança no estilo de vida, reduzindo o consumo de álcool e aumentando a atividade física e medidas para diagnóstico precoce. E isso inclui treinamento dos médicos e equipe não médica também, então de toda equipe multiprofissional, para que você possa identificar as pessoas que têm um alto risco de câncer e encaminhá-las para o diagnóstico. No mesmo trabalho, a gente vê um gráfico que é muito interessante, no qual você tem uma redução da mortalidade esperada e isso se dá principalmente por dois fatores. O primeiro é o diagnóstico precoce e o segundo é um tratamento eficiente do câncer”.
A oncologista lembra que há muitos anos vem ocorrendo um aumento da mortalidade por câncer no Brasil. “Quando comparamos dados de 2019 com 1990, nós vemos que houve um aumento de 18% na mortalidade por câncer antes dos 50 anos de idade. E os principais fatores para esse aumento são universais: obesidade, consumo de álcool, tabagismo, paridade, inatividade física são os principais fatores relacionados a esse aumento da mortalidade e também da incidência por câncer nessas faixas etárias.” Segundo a especialista, os cinco tipos mais incidentes da doença em mulheres são os cânceres de mama, colo retal, colo de útero, pulmão e tireoide.
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