O Ártico, localizado no hemisfério norte, é uma região de grande importância no cenário internacional, apesar de sua baixa visibilidade. Diferentemente da Antártida, que é um território destinado à exploração pacífica, a região ártica é formada pelo território de oito países e está condicionada às regras de soberania da ONU. Em diferentes períodos da história, o Ártico possuiu uma importância no cenário internacional, no contexto político ou econômico.
“Se a gente entender que o Ártico não é simplesmente a camada de gelo boiando em cima do oceano, mas sim esses espaços territoriais, terrestres e marítimos, conseguimos perceber que tem uma importância não só geopolítica”, contou Arthur Capella, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.
O círculo ártico é uma região que existe sob a jurisdição de oito países: Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia, Estados Unidos, Canadá, Dinamarca e Islândia. Junto, esses países formam o Conselho do Ártico, órgão que toma decisões relacionadas à região. De acordo com Capella, é esse encontro entre territórios que são permeados por interesses econômicos e políticos entre países e povos originários da região que constitui um dos motivos que a tornam de grande importância para o cenário internacional.
Um exemplo da importância da região ártica pode ser vista na ocupação dela durante a Guerra Fria. Sendo o único território onde os Estados Unidos e a extinta União Soviética faziam fronteira, a região foi de extrema importância para a demonstração de força que os países realizaram durante o período. “Existe uma regulamentação jurídica internacional em torno desse espaço, que permite contemporizar algumas diferenças entre os países ou pelo menos alguma série de formas de convivência”, explica Capella.
A importância ártica não se limita aos países que possuem territórios na região. China, Índia e Brasil têm procurado aproximar-se da região ártica devido a suas agendas econômicas e ambientais. “Alguns países que não estão perto do Ártico estão tentando se aproximar de maneira mais efetiva da exploração econômica local, mas também em atividades de preservação ambiental, exatamente porque se entendem como quase Ártico, próximos ao Ártico ou ainda afetados por esses fatores”, afirma Capella.
Povos Locais e Exploração de recursos
A região polar é habitada por povos locais que possuem raízes sociais e culturais no Ártico por gerações. Populações como as dos Inuit, Alutiit, Sami Eskimo e Esquimós são algumas das populações que ocupam a região. Como suas tradições e culturas estão lá enraizadas, eles possuem participação passiva no Conselho do Ártico, não podendo inferir nas decisões tomadas, porém, podendo opinar sobre elas. Segundo Capella, existe uma preocupação em manter viva essa cultura desses povos, com a existência de entidades de estudos locais que buscam compreender a especificidade cultural da região. Apesar desse senso de conciliação, Capella ressalta que os membros do Conselho têm a possibilidade de não levar em consideração as opiniões.
O superaquecimento global vem provocando alterações no clima do planeta, causando o derretimento das calotas polares. Isso cria uma mudança na forma como os países exploram os recursos locais. “Há uma série de dispositivos da convenção das Nações Unidas sobre direitos do mar e alguns para exploração de recursos que estão em alto mar, então a regulação desse espaço está limitada”, conta Capella, ao explicar as limitações que a região possui.
Segundo ele, o superaquecimento global e as limitações de explorações marítimas podem afetar a forma como os países exploram os recursos minerais, que antes estavam indisponíveis por conta do gelo. “Essa questão do derretimento tem levantado bandeiras de alguns países para explorarem os minerais, como petróleo, gás e mesmo novas formas de comércio a partir desse espaço, quando efetivamente derreter”, explica o professor. Por outro lado, o derretimento traria consequências diretas e consideráveis ao ecossistema e biodiversidade da região, assim como para as culturas locais. Para Capella, é preciso haver uma mediação por parte de órgãos oficiais para uma exploração sustentável da região. “A ideia é uma aproximação nesse espaço, uma nova leitura, uma leitura que busque recorrer a uma exploração econômica desse recurso ali disponível”, conclui.
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