Programa Diálogos na USP – Parte 1
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Programa Diálogos na USP – Parte 2
A Cracolândia – que, apesar de não se tratar de um espaço físico, é como ficou popularmente conhecida a região da Luz, no centro da capital paulista, que, há décadas, é frequentada e ocupada por usuários de drogas, que, ali, compram e usam o crack livremente – representa um problema crônico, que se arrasta sem uma solução à vista.
Após governos anteriores já terem realizado diversas tentativas fracassadas de lidar com o problema, no último dia 21, uma nova operação policial na área foi deflagrada por iniciativa da prefeitura em parceria com o governo do Estado, retirando à força os usuários do local. A ação foi a primeira feita durante a gestão do prefeito João Doria (PSDB), que chegou a anunciar que a Cracolândia havia acabado.
Sem ter para onde ir, grande parte da população expulsa da área tradicional se deslocou até a Praça Princesa Isabel – o local também foi alvo de uma investida da Polícia Militar para retirar os usuários que ali se instalaram. Outras medidas controvérsias foram anunciadas desde então e a situação continua, aparentemente, sem saída.
Para buscar apontar soluções ou, pelo menos, caminhos para amenizar o problema, o Diálogos na USP promoveu um debate entre o professor Rubens de Camargo Ferreira Adorno, docente da Faculdade de Saúde Pública da USP, que vem se dedicando a analisar, entre outros assuntos, as políticas públicas e os marginalizados; e o pesquisador Marcel Segalla Bueno Arruda, membro do grupo de pesquisa em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem (EE) da USP e autor da dissertação de mestrado “A Cracolândia muito além do crack”, apresentada em 2014 na EE-USP.
De acordo com os especialistas, a questão é complexa e não é tratada como deveria. Para Adorno, a Cracolândia é um pedaço da periferia da capital paulista deslocado para o centro, que revela uma “São Paulo invisível”, e as políticas públicas que atuam nela são primitivas, repressivas e fragmentadas, ou seja, não pensam no problema de maneira ampla, buscando formas de reintegrar os usuários à sociedade. “Eu acho que, primeiro, eu precisaria dar o mínimo de dignidade às pessoas”, afirma. Para Arruda, “a droga não é o problema, é o deslocamento do problema” e a situação demanda uma solução que pense na complexidade da questão. “Qualquer solução rápida, prática, curta, que se diz eficiente, entre aspas, tende a dar errado”, pontua.