Posicionamento antiambiental do governo preocupa até o agronegócio

Setor que naturalmente possui interesses contrastantes com ambientalistas também discorda de decisões governamentais

 09/08/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 29/10/2019 às 9:50
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Desde que tomou posse em janeiro, o presidente Jair Bolsonaro e seu governo vêm acumulando um progressivo sentimento de repúdio de organizações e da sociedade civil no que diz respeito a seus posicionamentos sobre a questão ambiental. As críticas vieram desde ONG’s como Greenpeace e WWF, até chefes de Estado como Emmanuel Macron e Angela Merkel. Agora, um setor inusitado começa a demonstrar preocupação com a política antiambiental bolsonarista, o agronegócio.
Para entender melhor esta situação, o Jornal da USP no Ar conversou com o professor Pedro Luiz Côrtes, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente, e do Projeto Temático FAPESP Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista.

Ele explica que o risco de atrito entre governo e agronegócio já havia sido alertado em maio do ano passado, quando se iniciou a discussão sobre a flexibilização do licenciamento de agrotóxicos no País. “Nós alertávamos que isso poderia prejudicar as exportações nacionais de produtos agrícolas, caso passássemos a utilizar produtos banidos em outros mercados”, relembra. Além disso, a percepção de que a preocupação ambiental é relevante para muitos mercados consumidores, como a União Europeia, liga um sinal de alerta. A possibilidade dos produtos agrícolas brasileiros sofrerem um boicote estrangeiro é muito perigosa para o agronegócio.

O governo busca desenvolver uma campanha internacional para melhorar sua imagem do ponto de vista ambiental.  A ideia é atuar – a partir de setembro – em países importantes para o Brasil, como a Alemanha, França e Reino Unido na tentativa de reverter as críticas recentes. Além disso, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles visitará países europeus para apresentar um “plano factível” nacional para conter o desmatamento e buscar apoio financeiro para executá-lo.

Para o professor, a estratégia propagandística está fadada ao fracasso. Ele elenca três indícios para explicar o porquê. A exoneração de Ricardo Galvão da direção do Inpe após divulgação de dados sobre a Amazônia “mostra que o governo parece estar mais preocupado em controlar dados e informações sobre o desmatamento do que evitar que o desmatamento ocorra”. Além disso, Bolsonaro reduziu o orçamento do IBAMA e se manifestou contra a “indústria da multa”, enquanto “na verdade, os técnicos do IBAMA estão apenas cumprindo o que determina a lei”. Por último, o professor relembra que enquanto o presidente defende o garimpo em terras indígenas, Roberto Brandt, presidente do Instituto da Confederação Nacional da Agricultura, declarou que o governo não deveria estar focado nisso, mas sim em métodos e processos para vigiar a Amazônia. “Notem que essa é a visão de um representante do agronegócio”, ressalta Côrtes.

Na iminência das exportações brasileiras serem prejudicadas, e diante da expectativa de implementação do acordo entre Mercosul e União Europeia, o agronegócio se demonstra explicitamente preocupado. “Não é com uma campanha internacional que o governo conseguirá reverter essa péssima imagem. É necessário agir de fato e combater os crimes ambientais e o desmatamento”, conclui Pedro Luiz Côrtes.


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