Preconceitos ligados à depressão podem retardar diagnóstico e tratamento

Especialistas comentam que os impactos podem ser tanto econômicos e profissionais quanto podem haver consequências sociais e o prejuízo do agravamento do próprio sofrimento

 15/08/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 01/08/2024 às 10:15
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Foto: PublicDomainPictures por Pixabay
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A gravidade da depressão no Brasil é desencadeada pela demora na procura médica e início do tratamento. A constatação veio a partir de uma pesquisa liderada pelo Instituto IPSOS, que diz que os brasileiros demoram cerca de três anos e três meses para, então, procurarem ajuda médica e iniciarem o tratamento da depressão. O quadro reflete não somente os desafios encontrados no combate à doença, como também expõe preconceitos de uma doença que avança aos poucos no processo de aceitação relacionado à condição mental dos enfermos. 

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DMS-5), criado pela Associação Americana de Psiquiatria, a depressão é a condição em que o paciente se encontra com “humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo”. E o Brasil apresenta 11,3% de pacientes nessa condição.

Demora no tratamento

Doris Hupfeld Moreno – Foto: researchgate

Num cenário como esse, a questão envolvendo a demora por um tratamento efetivo traz sérias consequências. A médica Doris Hupfeld Moreno, supervisora do Programa de Transtornos Afetivos (Progruda) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, comenta que, como qualquer outra manifestação clínica, a demora no início do tratamento leva a uma piora significativa, já que, “quanto mais tempo a pessoa fica doente, maiores as consequências biológicas”. O ciclo social também é afetado, uma vez que pode desencadear prejuízos no relacionamento familiar, no núcleo de amigos e no âmbito profissional. 

A depressão possui múltiplos fatores, que vão desde as alterações químicas cerebrais até disfunções crônicas e histórico familiar. É principalmente por causa da falta de conhecimento sobre a doença que surgem os estigmas vinculados à doença. Leila Salomão, professora do Instituto de Psicologia, explica melhor os fatores por trás do problema: “Os estigmas sociais existem. Aí entra o preconceito de culpabilizar o deprimido, então, a pessoa se sente envergonhada.” 

Esse é um dos principais motivos que ocasionam a morosidade na busca por um tratamento. E, em complemento, a professora Leila destaca que a busca fica dificultada quando “ela é aumentada pela falta de compreensão, de diálogo e pelas formas rudes de enfrentar conflitos”, em decorrência de uma postura “de censura, de crítica preconceituosa” em relação à depressão. 

Passos importantes no combate à depressão

Leila Salomão – Foto: Sites USP

Como outras doenças, as especialistas defendem a importância de um tratamento regular para a depressão. Leila Salomão frisa a relevância de se atuar em “todas as linhas de prevenção”, indo desde o acesso à informação e à educação adequada até a prestação de apoio às famílias dos enfermos. No que diz respeito ao tratamento, a psiquiatra Doris Hupfeld destaca que, para cada quadro clínico, a medicação certa e na dosagem correta deve ser indicada pelo profissional da área qualificada. 

Ela também adiciona que: “Os caminhos em políticas públicas para amparar os acometidos pela depressão e investir em ambulatórios de saúde mental, mais CAPS [Centro de Atenção Psicossocial] para a população”, são algumas das medidas práticas que podem trabalhar em conjunto com um tratamento eficiente, para diminuir o estigma que envolve a doença e o número de acometidos pela depressão. 


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