Uma pesquisa realizada no Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia (IP) da USP entrevistou 882 pessoas de diferentes gêneros e com idades entre 17 e 76 anos. Perguntados se acreditam que um dia viverão no Brasil com prosperidade, segurança e bem-estar, 41% responderam que sim, 22% disseram não e 37% afirmaram ter dúvidas, ou seja, a resposta foi talvez. Se analisarmos cuidadosamente esse resultado, veremos que a certeza entre os brasileiros é quase tão grande quanto a dúvida sobre um futuro próspero. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, Esdras Guerreiro Vasconcellos, professor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do IP, falou sobre o estudo.
Ele relembra que a expressão “Brasil, país do futuro” foi cunhada por Stefan Zweig, autor austríaco que se encantou com o País na década de 30, vindo morar aqui. Zweig escreveu um livro intitulado Brasil, país do futuro e, antes de falecer, deixou uma carta de despedida em que fez um agradecimento específico ao País, dizendo acreditar no futuro e na prosperidade do Brasil. A ideia de fazer o estudo surgiu dessa ideia de país próspero, para verificar como os brasileiros pensam hoje. A pesquisa foi realizada pelos alunos de graduação e pós-graduação do IP. Os entrevistados eram dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
Para o especialista, o resultado, que foi quase um empate técnico entre certeza e dúvida, retrata o que estamos vivendo. “Todos esperam por um Brasil melhor, porém são muitas décadas de esperar e nada acontecer”, explica. “Isso faz com que a dúvida também cresça.”
Também foi perguntado aos entrevistados a confiança no sistema político brasileiro: 72% disseram que confiam na democracia como sistema político adequado às nossas condições, enquanto 28% responderam não confiar. Entretanto, ao responderem sobre a confiança nos políticos, o resultado foi o contrário: 61% dos entrevistados não confiam nos políticos, apenas 39% afirmam confiar. Na opinião de Vasconcellos, a dúvida impera, pois o sistema é aprovado pela maioria, mas há tremenda desconfiança nos representantes.
Aqueles que responderam acreditar num Brasil com prosperidade, segurança e bem-estar foram questionados sobre em quanto tempo imaginam que isso ocorra. O tempo médio foi de 39 anos. Para o professor, essa dúvida precisa diminuir e transformar-se em confiança. “Trinta e nove anos para esperar é um período muito longo. Serão dez governos até chegarmos num patamar aceitável. Algumas gerações não alcançarão esse dia”, comenta. Segundo ele, estamos num processo de conscientização da política muito grande, e se um estrangeiro acreditou no Brasil, nós também precisamos acreditar no nosso país.