O Jornal da USP no Ar recebeu hoje (8) Marcio Moretto, professor do curso de Sistemas de Informação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, para fazer um balanço sobre o comportamento de candidatos e apoiadores das eleições em 2020, as ações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para coibir as fake news e o papel das redes sociais nos pleitos.
Moretto resgata o quadro das eleições nos Estados Unidos em 2016, quando Donald Trump foi eleito. Segundo ele, naquele momento o papel e a importância das redes sociais ficaram mais claros. “A novidade é que, pela primeira vez, começamos a ter propagandas políticas direcionadas. Isso se configura um desafio para a democracia: nada garante que havia um discurso homogêneo para todos os grupos”, aponta ele.
Se havia dúvidas sobre a importância das redes, em 2018, no Brasil, ela deixa de existir. O professor exemplifica por meio da campanha do candidato eleito, o presidente Jair Bolsonaro: feita quase que exclusivamente pela internet, pouco tempo de TV, pouco dinheiro em razão das poucas coligações. “Mesmo a campanha nas ruas foi prejudicada com o episódio da facada”, recorda Moretto. “A campanha foi feita quase que exclusivamente pela internet e mesmo assim foi bem-sucedida. E sabe-se, desde então, que a internet é muito importante: em 2016 principalmente pelo Facebook, em 2018, no Brasil, pelo WhatsApp.”
O professor afirma que, ainda que as eleições de 2020 tenham sido muito marcadas pelas fake news, assim como as de 2016 e 2018, houve uma evolução dos dois lados envolvidos. “Os candidatos aprenderam o jogo das campanhas virtuais e os órgãos de regulação, como o TSE e mesmo as próprias empresas de internet, como Google, Facebook, Twitter, que estavam sendo pressionadas, se adaptaram a esse novo contexto”, afirma ele. No caso no TSE, houve um programa de enfrentamento à desinformação, o que demonstra a preocupação com os meios digitais nos processos eleitorais: o Tribunal recebeu quase 5 mil denúncias de grupos de fake news.
“Entendo que tanto candidatos quanto órgãos reguladores evoluíram. Não há mais dúvidas da importância dos meios digitais na campanha”, completa Moretto. “Ainda temos as disputas narrativas, com as fake news, e a fiscalização ainda tem a aprender, mas houve uma evolução significativa.”
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