Especialistas discutem o papel da sustentabilidade no trabalho

Evento realizado na FEA promoveu discussão sobre como o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade podem atuar de forma integrada

 23/11/2016 - Publicado há 8 anos
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Especialistas discutiram como conciliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Especialistas discutiram como conciliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Com o tema Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades para o Futuro do Trabalho, especialistas participaram de evento realizado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP para discutir quais são as formas de gerar emprego e impulsionar a economia sem deixar a sustentabilidade de lado.

Peter Poschen, diretor residente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) abriu a palestra falando sobre a sociedade, que ignorou por décadas o fato de que o clima está mudando. “Eu entrei na faculdade em 1964 e nas minhas aulas já se falava de mudanças climáticas e nós demoramos quatro décadas para assumir que estamos ultrapassando limites do planeta de uma maneira totalmente insustentável”, enfatiza.

Ele cita o Acordo de Paris como um pacto importante e que realmente iniciará uma redução das emissões de gases do efeito estufa. Segundo Poschen, é preciso entender como mercado de trabalho e sustentabilidade irão se conciliar para que esse acordo funcione.

Poschen diz que escolher entre crescimento econômico e sustentabilidade é um dilema falso porque é possível gerar mais empregos em uma economia verde. “Temos a possibilidade de uma economia que consiga conter a emissão de gases do efeito estufa e gerar cerca de 60 milhões de empregos a mais do que na economia convencional.”

Peter Poschen, diretor da OIT, falou que é possível investir em crescimento econômico e sustentabilidade
Peter Poschen, diretor da OIT, falou que é possível investir em crescimento econômico e sustentabilidade. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Ele também afirma que existe muita expectativa frente ao papel do setor privado nesse contexto. “Temos alguns exemplos de empresas que reduziram as emissões mais do que o previsto pelo Acordo de Paris”, diz Poschen.

O economista Carlos Roberto Azzoni explicou como funciona a descrição de tarefas que desempenham os trabalhadores. De acordo com Azzoni, o grau de habilidade de cada função pode ser cognitivo, social ou motor. A Região Sudeste se destaca por ter mais empregos nas áreas sociais e cognitivas – que exige esforço da mente para acontecer. O economista ainda afirma que está ocorrendo uma mudança no mercado de trabalho que está aumentando a contratação de pessoas com habilidade motora, ou seja, pessoas que vão desenvolver trabalhos que exijam algum tipo de esforço físico.

Depois foi a vez de José Goldemberg assumir a fala. De acordo com ele, o resultado das eleições norte-americanas não terão muita influência fora dos Estados Unidos e nem no Acordo de Paris. “Isso ocorre porque, durante sua campanha, Donald Trump fez promessas contraditórias e populistas com o objetivo de angariar votos e que não poderão ser cumpridas”, explica Goldemberg. Ele também criticou o Protocolo de Kyoto e sua eficácia por não ter países em desenvolvimento para se comprometerem na redução de emissão de gases.

Goldemberg terminou citando a pesquisa realizada por The State of Renewable Energies in Europe 8th Observer. Neste estudo, foi visto quais formas de geração de energia criam mais empregos considerando que o petróleo gera um emprego e as outras formas são comparadas a ele. Em primeiro lugar, está a energia fotovoltaica, que consegue gerar 340 empregos. A energia solar/térmica gera 190 empregos e a produção de etanol, 96.

José Goldemberg disse que as eleições norte-americanas não afetarão o Acordo de Paris. Foto: Marcos Santos/USP Imagens
José Goldemberg disse que as eleições norte-americanas não afetarão o Acordo de Paris Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Aron Belinky, coordenador do Programa Desempenho e Transparência do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Faculdade Getúlio Vargas, falou sobre a complexidade do momento que estamos vivendo e que não se trata apenas da questão econômica. Segundo Belinky, juntar o conceito do trabalho com a sustentabilidade não é uma coisa nova e já vêm sendo feitos diversos estudos sobre o assunto.

Ele afirma que um dos motivos para a demora em fazer algo em relação à questão climática são interesses de indústrias como a de carvão e a automobilística. “Existe toda uma lógica de operação e uma mudança nesse funcionamento é extremamente onerosa”, diz Belinky. Para que essa mudança seja feita, é preciso que tenha vontade política e um conhecimento tecnológico atuando conjuntamente. “O desafio é entender a economia em um contexto diferente daquele que vimos até hoje onde, por exemplo, a questão dos recursos naturais e limites planetários se coloca como uma coisa que tem que entrar nas contas.”

A professora Maria Tereza Fleury explicou as mudanças que estão ocorrendo nas formas de trabalho. Ela afirma que existe uma pressão muito forte para que as empresas invistam em métodos sustentáveis e que isso é uma coisa muito positiva. A professora falou do fenômeno da “uberização” e como temos que pensar nisso para analisar o trabalho docente daqui para frente. “Uberização” consiste na transformação e simplificação de um trabalho para que ele seja feito de forma mais acessível para as pessoas.

De acordo com Maria Tereza, profissões de nível superior também sofrerão com esse fenômeno e não apenas os empregos considerados de baixa qualificação. “Quando a gente olha hoje, o que significa a profissão de advogado nos próximos anos com o Big Data Analytics? Você acaba com essa quantidade de advogados que existem por aí.”

Para finalizar, o Professor Emérito Jacques Marcovitch falou sobre a Amazônia e o papel do Brasil como potência ambiental. “Nós temos um peso significativo sobre o que vai ocorrer nessa área, começando pela Amazônia e, em seguida, pela nossa extensão territorial.” Essa palestra fez parte do último dia do ciclo de conferências Repensar o Brasil, organizado pela FEA para celebrar os 70 anos em 2016.


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