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Com o tema Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades para o Futuro do Trabalho, especialistas participaram de evento realizado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP para discutir quais são as formas de gerar emprego e impulsionar a economia sem deixar a sustentabilidade de lado.
Peter Poschen, diretor residente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) abriu a palestra falando sobre a sociedade, que ignorou por décadas o fato de que o clima está mudando. “Eu entrei na faculdade em 1964 e nas minhas aulas já se falava de mudanças climáticas e nós demoramos quatro décadas para assumir que estamos ultrapassando limites do planeta de uma maneira totalmente insustentável”, enfatiza.
Ele cita o Acordo de Paris como um pacto importante e que realmente iniciará uma redução das emissões de gases do efeito estufa. Segundo Poschen, é preciso entender como mercado de trabalho e sustentabilidade irão se conciliar para que esse acordo funcione.
Poschen diz que escolher entre crescimento econômico e sustentabilidade é um dilema falso porque é possível gerar mais empregos em uma economia verde. “Temos a possibilidade de uma economia que consiga conter a emissão de gases do efeito estufa e gerar cerca de 60 milhões de empregos a mais do que na economia convencional.”
Ele também afirma que existe muita expectativa frente ao papel do setor privado nesse contexto. “Temos alguns exemplos de empresas que reduziram as emissões mais do que o previsto pelo Acordo de Paris”, diz Poschen.
O economista Carlos Roberto Azzoni explicou como funciona a descrição de tarefas que desempenham os trabalhadores. De acordo com Azzoni, o grau de habilidade de cada função pode ser cognitivo, social ou motor. A Região Sudeste se destaca por ter mais empregos nas áreas sociais e cognitivas – que exige esforço da mente para acontecer. O economista ainda afirma que está ocorrendo uma mudança no mercado de trabalho que está aumentando a contratação de pessoas com habilidade motora, ou seja, pessoas que vão desenvolver trabalhos que exijam algum tipo de esforço físico.
Depois foi a vez de José Goldemberg assumir a fala. De acordo com ele, o resultado das eleições norte-americanas não terão muita influência fora dos Estados Unidos e nem no Acordo de Paris. “Isso ocorre porque, durante sua campanha, Donald Trump fez promessas contraditórias e populistas com o objetivo de angariar votos e que não poderão ser cumpridas”, explica Goldemberg. Ele também criticou o Protocolo de Kyoto e sua eficácia por não ter países em desenvolvimento para se comprometerem na redução de emissão de gases.
Goldemberg terminou citando a pesquisa realizada por The State of Renewable Energies in Europe 8th Observer. Neste estudo, foi visto quais formas de geração de energia criam mais empregos considerando que o petróleo gera um emprego e as outras formas são comparadas a ele. Em primeiro lugar, está a energia fotovoltaica, que consegue gerar 340 empregos. A energia solar/térmica gera 190 empregos e a produção de etanol, 96.
Aron Belinky, coordenador do Programa Desempenho e Transparência do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Faculdade Getúlio Vargas, falou sobre a complexidade do momento que estamos vivendo e que não se trata apenas da questão econômica. Segundo Belinky, juntar o conceito do trabalho com a sustentabilidade não é uma coisa nova e já vêm sendo feitos diversos estudos sobre o assunto.
Ele afirma que um dos motivos para a demora em fazer algo em relação à questão climática são interesses de indústrias como a de carvão e a automobilística. “Existe toda uma lógica de operação e uma mudança nesse funcionamento é extremamente onerosa”, diz Belinky. Para que essa mudança seja feita, é preciso que tenha vontade política e um conhecimento tecnológico atuando conjuntamente. “O desafio é entender a economia em um contexto diferente daquele que vimos até hoje onde, por exemplo, a questão dos recursos naturais e limites planetários se coloca como uma coisa que tem que entrar nas contas.”
A professora Maria Tereza Fleury explicou as mudanças que estão ocorrendo nas formas de trabalho. Ela afirma que existe uma pressão muito forte para que as empresas invistam em métodos sustentáveis e que isso é uma coisa muito positiva. A professora falou do fenômeno da “uberização” e como temos que pensar nisso para analisar o trabalho docente daqui para frente. “Uberização” consiste na transformação e simplificação de um trabalho para que ele seja feito de forma mais acessível para as pessoas.
De acordo com Maria Tereza, profissões de nível superior também sofrerão com esse fenômeno e não apenas os empregos considerados de baixa qualificação. “Quando a gente olha hoje, o que significa a profissão de advogado nos próximos anos com o Big Data Analytics? Você acaba com essa quantidade de advogados que existem por aí.”
Para finalizar, o Professor Emérito Jacques Marcovitch falou sobre a Amazônia e o papel do Brasil como potência ambiental. “Nós temos um peso significativo sobre o que vai ocorrer nessa área, começando pela Amazônia e, em seguida, pela nossa extensão territorial.” Essa palestra fez parte do último dia do ciclo de conferências Repensar o Brasil, organizado pela FEA para celebrar os 70 anos em 2016.