Na terça-feira, dia 26 de junho, o mais importante ato da sociedade civil brasileira contra a ditadura militar completou 50 anos: a chamada Passeata dos 100 mil, que ocorreu no Rio de Janeiro. Entre estudantes, políticos, intelectuais e trabalhadores, 100 mil pessoas tomaram a Avenida Rio Branco, no centro da cidade, para enviar sua mensagem ao governo militar. A manifestação foi pacífica, diferente de outras que aconteceram naquele ano de 1968, mas isso não impediu a ditadura de mostrar o ápice de sua censura com o decreto do Ato Institucional nº 5 (AI-5).
Meio século depois, porém, o que restou e ainda reverbera em nossa sociedade como fruto da Passeata dos 100 mil? Uma das heranças culturais desse momento histórico na vida política e social brasileira são os movimentos estudantis atuais. Para discutir o tema, o Diálogos na USP conversou com os professores Marcos Antônio da Silva, do Departamento de História, e Franklin Leopoldo e Silva, do Departamento de Filosofia, ambos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
O professor Franklin Leopoldo explica que essas manifestações tiveram influência em acontecimentos políticos ocorridos na Europa, no período do Pós-Guerra, e no embate político-ideológico entre direita e esquerda. Ele conta que essas manifestações representaram uma mudança, tanto comportamental quanto política, e que essas transformações mostraram-se ao governo como uma tentativa de organização de uma oposição que abrangia diversas classes da sociedade, e que isso culminou no endurecimento do regime, com o AI-5. O professor Marcos Antônio da Silva lembra que essa diversidade da oposição ao regime, somada às mudanças sociais que acarretaram, tinha como reflexo o uso das artes e da cultura como formas de resistência, com hinos como Pra não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré.
O professor Franklin Leopoldo conta que as heranças mais imediatas dos movimentos sociais da época, que têm na Passeata dos 100 mil seu maior representante, têm como grandes exemplos a batalha da Maria Antonia, travada entre estudantes da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), atual FFLCH, que defendiam a esquerda, e estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que defendiam a direita; e a invasão do Conjunto Residencial da USP (Crusp) pelo exército brasileiro, que levou ao fechamento do complexo de apartamentos universitários que dava teto a estudantes cujas famílias vinham de lugares distantes da USP. O professor Marcos Antônio da Silva comenta que esses acontecimentos, desde a repressão, com a destruição do prédio da União Nacional dos Estudantes (UNE), até as resistências através de militâncias e da arte, ajudaram a moldar os valores e juízos do que, hoje, são os movimentos estudantis.
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Esta edição do Diálogos na USP teve apresentação dos jornalistas Roberto Castro e Luiz Roberto Serrano, com trabalhos técnicos de Marcio Ortiz. A produção é do Departamento de Jornalismo da Rádio USP.