O Banco Central (BC) começa hoje (21) nova estratégia para conter a disparada do dólar, que encerrou a semana passada cotado em R$ 3,74. A medida anunciada tem como objetivo aumentar a venda da moeda no mercado futuro, diminuir pressões do mercado à vista, triplicando a oferta da moeda norte-americana, que, desde o começo de ano, já teve valorização de 11,39% sobre o real. Celso Grisi, professor titular do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, explicou a valorização do dólar e as consequências para a economia brasileira.
Grisi esclarece que a ampla reforma tributária realizada pelo governo Trump, que alterou suas políticas fiscal e econômica, deu fundamentos para que a economia norte-americana iniciasse um ciclo de crescimento. Os empresários reagiram com novos investimentos, o que expandiu a oferta e o consumo e possibilitou a criação de empregos. Com isso, houve um aumento de juros nos EUA, e a taxa de remuneração das aplicações em dólar chega a 3%. Vários países, e o Brasil inclusive, estão remetendo uma boa quantidade de dólares para aplicação nos EUA, dado o baixo risco e a boa remuneração. Assim, falta dólar no mercado, que é valorizado, enquanto a moeda nacional desvaloriza. É por isso, explica o professor, que o BC, tentando minimizar esse problema, se dispôs a triplicar a oferta de dólar no mercado, para tentar conter a desvalorização do real.
Segundo Celso Grisi, a alta do dólar já manifesta efeitos sobre a inflação brasileira. Os produtos importados tiveram um aumento considerável em seus preços e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) já registrou um aumento da inflação. Isso explica por que, na semana passada, o Banco Central não baixou a Selic. As previsões vinham sendo otimistas em relação a mais uma queda e a manutenção frustrou o mercado, desvalorizando a bolsa de valores, o que desestimula os investimentos. Como reflexo, surge uma incerteza em relação à política monetária dos investidores sobre a política monetária do governo. “Uma situação um pouco imobilizante e contrária à nossa expectativa de um crescimento maior da economia ainda no primeiro semestre”, comenta o economista.
Entretanto, o especialista aponta desdobramentos positivos da alta do dólar. No momento atual, o País pode criar uma conjuntura nacional que estimulará investimentos nesse período. Como nossa moeda está desvalorizada, torna-se interessante às empresas multinacionais presentes aqui investir. Ele destaca ainda a importância do cenário político: “Nós temos que reduzir as incertezas a que o investidor está submetido nesse ambiente confuso das eleições presidenciais. Isso é indispensável para que esse ambiente venha a melhorar”, conclui o professor.
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