Botulismo pode causar paralisia dos órgãos, se não tratado a tempo

Bernadete Dora Gombossy conta que existem cinco tipos da doença e fala sobre os riscos e os cuidados que se deve ter para evitá-la

 16/05/2024 - Publicado há 2 meses
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Os sintomas do botulismo são os mesmos que os de qualquer intoxicação alimentar: náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia Fotomontagem – Jornal da USP / Flaticon
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Comuns nos Estados Unidos, os alimentos enlatados como salsicha e carne não são tradição no Brasil, mas não é rara por aqui a venda de palmito artesanal e outros produtos que podem conter a toxina botulínica, que aparece nos casos de alimentos mal armazenados ou higienizados. Quando entram no organismo, as toxinas produzidas pelo micro-organismo Clostridium botulinum podem causar a paralisia total do corpo. Frise-se, porém, que não se trata de uma doença contagiosa.  

Bernadette Dora Gombossy de Melo Franco, professora titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, conta que existem cinco tipos da doença: “O de origem alimentar, o botulismo infantil, o de feridas, o iatrogênico e a toxemia intestinal. A forma clássica e mais comum é a causada pelos alimentos, resultante da ingestão de algumas das várias toxinas pré-formadas por esse micro-organismo. As toxinas são neurotoxinas, isto é, agem nas terminações nervosas, inibindo a liberação dos neurotransmissores, o que causa paralisia muscular. Existem vários tipos de toxinas botulínicas, sendo as mais comuns as dos tipos: A, B e E. Muitos consideram a toxina do tipo A a mais potente que existe na natureza.

No botulismo de origem alimentar, as toxinas são produzidas quando o alimento não foi processado, nem armazenado corretamente. Nesse caso, o  microrganismo produz umas estruturas denominadas esporos, que têm elevada resistência térmica quando o processamento é mal feito. Mesmo que as bactérias sejam eliminadas, os esporos continuam no produto que, quando armazenado incorretamente e com temperatura inadequada, faz os esporos germinarem, formando novas células.

Os sintomas do botulismo são os mesmos que os de qualquer intoxicação alimentar: náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia. Eles podem surgir entre 12 e 36 horas após a ingestão do alimento com a toxina. Depois, surgem os sintomas neurológicos, que são principalmente visão dupla ou desfocada, queda das pálpebras, dificuldade de engolir e falar, secura da boca, fadiga e falta de coordenação motora. Por esse motivo, o diagnóstico é muito difícil.

Taxa de mortalidade

Bernadette Dora Gombossy – Foto: USP Imagens

Bernadete destaca que a taxa de mortalidade está entre 5% e 10% dos casos, segundo a literatura. “A característica do botulismo é ser uma paralisia descendente, que culmina com a paralisia do diafragma, com consequente impedimento respiratório, que pode levar à morte”. O tratamento deve ser realizado o mais rápido possível para conter o avanço da doença. A primeira providência é a lavagem estomacal ou enema, que é a introdução de água no ânus, em seguida deve ocorrer a administração intravenosa da antitoxina botulínica, geralmente polivalente. Isso deve ocorrer  o mais cedo possível, porque, se a toxina já estiver dentro das células nervosas da pessoa, a antitoxina não tem como agir. Se for necessário, aplica-se suporte respiratório. A recuperação de quem tem botulismo é muito lenta, pode demorar muitos meses e pode deixar sequelas como cansaço e fraqueza respiratória, podendo ser necessária a terapia continuada por anos.

Os alimentos industrializados, quando processados corretamente, não trazem riscos. Existem normas internacionalmente aceitas a serem seguidas à risca. Essas normas estabelecem a temperatura e o tempo de processamento, bem como as características físico-químicas que o produto final tem que ter, como a acidez, quantidade de água que impede a germinação dos esporos possivelmente presentes e, consequentemente, a produção de toxina. Dependendo do alimento, a refrigeração é importante também.

As conservas caseiras e outros produtos similares, preparados por pessoas que desconhecem os cuidados necessários para prevenir o problema,  estão entre os maiores riscos. Mesmo que o alimento não tenha alteração na aparência ou nas características sensoriais, como odor ou cor, pode conter a toxina. Por esse motivo, é recomendado que qualquer alimento suspeito seja fervido ou aquecido a pelo menos 80 graus, por pelo menos 10 minutos.

De todo modo, o botulismo é uma doença muito rara e seus números são muito baixos no Brasil e no mundo. O mais recente boletim epidemiológico publicado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, no período de 2006 ao início de 2020, contabiliza 413 casos suspeitos de botulismo notificados no País. Desse total, aproximadamente 3% foram duplicidades, ou seja, existem cerca de 400 registros válidos. Muitos podem lembrar do uso da toxina botulínica por clínicas de estética em diferentes partes do corpo humano; inicialmente não há risco porque as quantidades são bem pequenas, mas, quando o procedimento não é feito corretamente,  pode ocorrer o botulismo. 


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