O Sistema Cantareira está em alerta. O nível das represas que abastecem a região metropolitana de São Paulo está quase 12% mais baixo que o ano anterior e o sistema todo está pouco acima de 30% de sua capacidade, apesar de terem passado nem cinco anos desde o fim da crise hídrica da região.
Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, conta ao Jornal da USP no Ar que fatores climáticos afetam todo esse cenário: uma estiagem prolongada na região Sul, no primeiro semestre, e o La Niña, que também provoca estiagens no Sul, as quais afetam São Paulo e podem se estender até a metade de 2021.
Outro problema é a redução das chuvas vindas da floresta amazônica, que afeta o nível dos reservatórios de hidrelétricas, que, por consequência, leva à adoção da bandeira vermelha na energia, tornando as contas de luz mais caras por conta do uso de termoelétricas. “A situação é preocupante, pois não afeta somente o Sistema Cantareira, que foi o mais afetado na crise hídrica, mas também outros mananciais que abastecem a região metropolitana de São Paulo”, alerta o professor. “Não conseguimos negociar com o clima, mas podemos saber como nos planejar com antecedência.”
No meio do ano que vem, após o fim do La Niña e antes do começo de um possível El Niño, ocorre o que o especialista chama de “fase neutra”. Esse período de transição pode causar problemas de abastecimento, dependendo de sua duração e, por isso, Côrtes indica que “é importante termos consciência de que isso pode acontecer para que voltemos aos hábitos de uso racional da água que desenvolvemos ao longo da crise hídrica, ou seja, privilegiar o reúso de água dentro do ambiente doméstico, ficar atento aos detalhes, porque com isso conseguimos manter os níveis dos mananciais e, depois, na ocorrência de um evento mais drástico, conseguimos passar por ele sem tantas dificuldades quanto na última crise”.
Ele também ressalta que pode ocorrer uma recarga dos sistemas nos meses de dezembro e janeiro por conta do aumento das chuvas, mas que isso não basta para resolver os problemas, pois não revertem o cenário atual. “Está chovendo bem menos que a média histórica – é como se tivéssemos perdido três meses em relação ao ano passado quanto ao nível previsto de chuvas – e isso é preocupante”, conclui, recomendando a adoção de medidas de economia de água.
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