Auxílio emergencial mostrou que milhões de brasileiros não têm acesso aos bancos

Segundo Simão Silber, os serviços bancários não foram desenhados para as camadas mais pobres da sociedade, as quais sobrevivem com renda transitória

 06/05/2021 - Publicado há 4 anos
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O avanço da bancarização foi mascarado pelo auxílio emergencial – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Aproximadamente 34 milhões de brasileiros não têm acesso a bancos, conforme dados de 2020 do Instituto Locomotiva divulgados pelo jornal Valor Econômico. A disponibilização do auxílio emergencial levou parte dessa população a uma semibancarização, mas não foi um processo significativo, já que essa parcela utiliza as instituições financeiras apenas para sacar o dinheiro.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Simão Silber, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e pesquisador da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), explica que o avanço da bancarização foi mascarado pelo auxílio emergencial. A necessidade de receber o dinheiro levou a população desbancarizada a adentrar instituições financeiras para acessar os pagamentos. A esmagadora maioria das pessoas sem acesso aos bancos integra as camadas desfavorecidas da sociedade, as quais não têm recursos suficientes para possuir ou acessar contas ou os serviços fornecidos pelas instituições. A informalidade é uma das responsáveis. “Imagine uma senhora que pega garrafas térmicas e vai num ponto de ônibus vender. Ela se virava sozinha [antes da pandemia]. Não estava em nenhum cadastro único. Agora, como perdeu o ganha-pão dela, com o auxílio emergencial ela entrou no banco e tirou o dinheiro.”

A desbancarização obstaculiza o processo de circulação de moeda, apesar de ter evoluído com o auxílio emergencial – Foto: Fotos públicas

O auxílio emergencial proporcionou o aumento da circulação de dinheiro durante a pandemia, inclusive levando o Banco Central a disponibilizar a nova nota de R$ 200. A razão para esse acréscimo de cédulas nas ruas é porque as pessoas desbancarizadas sacaram o dinheiro, ao invés de utilizar serviços de transação on-line, como PIX ou transferências: “Boa parte desse pessoal gastou, mas não foi usando cartão, PIX, nada disso. Gastou dinheiro vivo, então tem muito mais dinheiro em circulação”. A problemática é que, quando se tem mais dinheiro vivo circulando, maior é a dificuldade de troco. A desbancarização obstaculiza o processo de circulação de moeda, apesar de ter evoluído com o auxílio emergencial. Contudo, para pessoas de baixa renda, que necessitam do dinheiro para sobreviver, integrar uma instituição financeira não é viável: “Para uma pessoa simples não faz o menor sentido, porque é para fins de consumo, não é que tem uma carteira de investimentos e precisa de um banco ou corretora, é alguém que não tem dinheiro nem para a sobrevivência”.

O professor acredita que o processo de bancarização seria produtivo se milhões de brasileiros não sobrevivessem com renda transitória. Dessa forma, seria possível fazer uso dos serviços bancários mas, infelizmente, essas instituições não foram desenhadas para as camadas mais pobres da sociedade: “Poderia ser mais produtivo se as condições fossem mais adequadas, porque daria para usar o serviço do banco, caso contrário não dá. O banco não foi feito para pobre, para miserável”. O objetivo do auxílio emergencial é garantir a subsistência das famílias pobres. A péssima distribuição de renda no Brasil contribui para o acirramento das desigualdades sociais presentes desde o fundamento da sociedade, como expõe Silber: “O Brasil não é pobre, mas um país de pobres. São aqueles que foram marginalizados desde o começo da sociedade. Estavam submersos porque a economia não estava tão ruim, até a chegada da pandemia, todo mundo se virava. Agora não dá para se virar, porque tem uma série de atividades que desapareceram. O auxílio é para essas pessoas”.


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