Rascunho de palestra em um Clube de Leitura

Jurandir Renovato é jornalista e editor executivo da “Revista USP”

 13/11/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 01/12/2018 às 0:54

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Jurandir Renovato – Foto: Cecília Bastos

Boa tarde, senhoras e senhores [TIRAR O “SENHORES” SE, COMO IMAGINO, SÓ TIVER MULHER NA SALA] do Clube de Leitura da Casa de Repouso Caminho Suave. [NÃO RIR! NEM FALAR “ASILO” EM HIPÓTESE ALGUMA!] O tema da nossa conversa, como todos já devem saber, é a ficção brasileira dos anos 60.

Começo dizendo que ninguém vivencia plenamente a década em que nasce. Mesmo que você tenha vindo ao mundo no início dela, ao seu final terá no máximo dez aninhos, o que não é muita coisa em termos de experiência de vida. [FRISAR BEM A EX-PE-RI-ÊN-CIA, SEM IRONIA, POR FAVOR] E todos nós sabemos como isso é importante, não é mesmo?

Quem, como eu, nasceu em meados da década, no caso, em 1965, tem muito menos a dizer, principalmente quando o assunto for livros. Como não fui um desses superdotados que aprendem a ler antes de usarem as pernas para andar, os livros dos anos 60 que conheci foram lidos, portanto, nas décadas seguintes. [PAUSA ESTRATÉGICA PARA QUE OS MAIS SIMPÁTICOS DEEM UMA RISADINHA E ALGUM SABICHÃO DA TERCEIRIDADE POSSA PENSAR ALGO DO TIPO “MAS ISSO É ÓBVIO!”]

Jorge Mautner em 1972 – Foto: Arquivo Nacional / Fundo Correio da Manhã via Wikimedia Commons / Domínio público

Isso parece banal e óbvio. [PAUSA DRAMÁTICA, PERCORRER A SALA EM BUSCA DO SABICHÃO] Mas não é. Sobretudo em se tratando de uma década cuja produção cultural esteve como nunca tão contaminada pelo Zeitgeist [PRONUNCIA-SE “TÇZÁITGÁIST”, SEMPRE QUIS USAR ESTA PALAVRA, OBS.: TREINAR A PRONÚNCIA], ou seja, o espírito do tempo.

Explico. Nos Estados Unidos, por exemplo, os anos 60 já começam com um livro que prenuncia uma das questões mais acirradas ao longo da década e que eclodiria de vez em 1968, com o assassinato de Martin Luther King. Estou falando do romance O sol é para todos, de Harper Lee, ganhador do Prêmio Pulitzer de 1960 [UMA DÚVIDA: A DÉCADA DE 60 COMEÇA MESMO EM 60 OU EM 61? PESQUISAR NO GOOGLE]. Dois anos depois, a história do advogado que insiste em defender um negro acusado de estuprar uma moça branca se transformaria num filme de enorme sucesso. [PERGUNTAR SE ALGUÉM ASSISTIU, TALVEZ CITAR O GREGORY PECK, SEMPRE VAI TER UMA COROA QUE FOI APAIXONADA POR ELE]

De fato, se a literatura dessa época, e mais particularmente a prosa de ficção, é marcada por um viés quase autoexplicativo – e realístico –, muito natural que a dicção jornalística se transformasse num modelo de escritura. O Novo Jornalismo americano é justamente isso, uma tentativa de… [DE O QUÊ? VER DEPOIS OU CORTAR OU ENROLAR].

José Agrippino de Paula em 1970 – Foto: Arquivo Nacional / Fundo Correio da Manhã via Wikimedia Commons / Domínio público

Nesse sentido, autores como Truman Capote, de A sangue frio, Norman Mailer, de Os exércitos da noite, Tom Wolfe, de O teste do ácido do refresco elétrico, e Gay Talese, de O reino e o poder, deram à reportagem, ao texto jornalístico, enfim, status de literatura de primeira linha. No Brasil, Antonio Callado, em Tempo de Arraes, e José Hamilton Ribeiro, em O gosto da guerra, seguiram o mesmo caminho. [PAUSA ESTRATÉGICA PARA DIGERIREM TANTOS NOMES E TÍTULOS, TALVEZ EU DEVA LEVAR ALGUNS LIVROS E MOSTRAR AS CAPAS, MAS… E SE PEDIREM EMPRESTADO?]

Curioso que, a par dessa tendência (se não até motivada por ela), tenha havido aqui no Brasil, nesse período, o que chamaria de um desvio de ambiente na prosa de ficção, e ainda que possamos encontrar resquícios de um regionalismo tardio, na esteira talvez do ainda então recente impacto causado pela obra extraordinária de Guimarães Rosa (o Grande sertão: veredas é de 1956), como n’O coronel e o lobisomem, de José Cândido de Carvalho, ou no Chapadão do Bugre, de Mário Palmério [CONFORME A EXPRESSÃO DA PLATEIA, METER AÍ NO MEIO UM ROMANCE MELOSO DO JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS, TALVEZ O ROSINHA, MINHA CANOA, OU, MELHOR AINDA, O MEU PÉ DE LARANJA LIMA, QUE PODE ATÉ RENDER UM COMENTÁRIO ADICIONAL SOBRE TELENOVELAS], é na urbanidade que o romance (e o conto) brasileiro deixará lastro [OU RASTRO? VER DICIONÁRIO].

Caetano Veloso em 1971 – Foto: Arquivo Nacional / Fundo Correio da Manhã via Wikimedia Commons / Domínio público

A literatura dos anos 60 é assim uma literatura das cidades, e como tal os personagens que nela atuam serão surpreendidos pelos problemas inerentes a elas, quais sejam: a solidão, a miséria, a violência, a ansiedade, a prostituição [?]. Não que esses problemas não existissem em outros períodos, como no romance de 30, por exemplo, de irretocável alcance e crítica social, mas aqui eles se exacerbam de tal maneira… [ONDE QUERO CHEGAR COM ISSO, SANTO DEUS? MANTER RETICÊNCIAS, NA HORA ME VIRO], e isso se dá também na esfera da linguagem.

Agora a psicologia dá lugar a uma voz crua e direta, sem intermediação, às vezes só diálogo, como Dalton Trevisan, em O vampiro de Curitiba; ou propondo, outras vezes, uma estética da violência, como Rubem Fonseca, em A coleira do cão; ou da marginalidade, como João Antonio, em Malagueta, Perus e Bacanaço; ou da sexualidade, como Roberto Freire, em Cleo e Daniel; ou da impotência [VER SINÔNIMO, PARA NÃO GERAR CONFUSÃO], como Ignácio de Loyola Brandão, em Bebel que a cidade comeu; ou da repressão [MELHOR NÃO FALAR “DITADURA”, VAI QUE TEM AÍ ALGUM MILITAR APOSENTADO], como Carlos Heitor Cony, em Pessach: a travessia. [LER UM CONTO CURTO DO DALTON TREVISAN OU DO RUBEM FONSECA, PROCURAR UM COM POUCOS PALAVRÕES, VAI SER DIFÍCIL]

Pois bem. Todos esses livros pertencem a um estilo narrativo que o professor Alfredo Bosi, em sua História concisa da literatura brasileira, chamou de “brutalista”. Aliás, é bastante curioso que nesse livro não haja um capítulo específico para os anos 60, passando do item dedicado a Guimarães Rosa imediatamente para “A ficção entre os anos 70 e 90”. Isso talvez se deva, vale dizer, porque todos esses aspectos que eu assinalei e que o crítico, sem nomeá-los [ISSO É PRA DEIXAR BEM CLARO QUE NÃO ESTOU CHUPANDO TUDO DO LIVRO DO BOSI], aglutina sob a rubrica “brutalismo”, vão se acentuar de modo ainda mais expressivo na década seguinte, cujas obras, portanto, estão fora do escopo desta nossa conversa. [HUM… QUE NOJO! MELHOR TIRAR ESSE FINAL DE “CUJAS” E “ESCOPO”]

Gary Snyder – Foto: Larry Miller from Grass Valley via Wikimedia Commons / CC BY-SA 2.0

Então as senhoras [E OS SENHORES], diante de tanta violência etc., devem estar se perguntando: mas onde está o “paz e amor” dos anos 60?; onde está o poder das flores? E eu respondo que, pelo menos no tocante à literatura [BAIXAR O TOM], não está exatamente em lugar nenhum.

A contracultura, que é a marca registrada dos anos 60, com todos os seus hippies e psicodelismos [EVITAR FALAR EM DROGAS], foi um movimento que se deu muito mais no âmbito comportamental, numa radical mudança de valores de uma juventude insatisfeita com o status quo. No plano das artes, a música teve supremacia sobre todas as outras. Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Jimi Hendrix, The Who foram os que melhor traduziram esteticamente as ansiedades dessa geração. [LIMPAR MEUS BOLACHÕES EMPOEIRADOS, MOSTRAR AS CAPAS, SE DISPUSEREM DE UM APARELHO DE SOM, UMA VITROLINHA SERIA PERFEITO, COLOCAR UM DISCO E DEIXAR RODANDO COMO FUNDO, SÓ ESPERO NÃO VIRAR UM BAILE DA SAUDADE]

Mas se não houve propriamente, com raras exceções, uma literatura da contracultura, houve sim uma que a influenciou. O Movimento Beat, por exemplo, que se estendeu por toda a década de 50, de Jack Kerouac a Allen Ginsberg e Gary Snyder, foi fundamental na construção do ideário e modo de vida hippie. O pensamento do filósofo Herbert Marcuse, principalmente aquele exposto no livro Eros e civilização, também teve enorme impacto. As portas da percepção, de Aldous Huxley, foi tão lido que chegou a batizar uma banda de rock, The Doors [SERÁ QUE TODOS SABEM QUE “DOOR” É PORTA EM INGLÊS? MELHOR FALAR]

Foram tempos de contestação e bandeiras de todo tipo: dos negros, das feministas, ambientalistas, pacifistas etc. Enfim, tempos de revolução em todos os aspectos, do corpo à política, da moda à religião, da moral à estética. As certezas se dissolviam. Como na filosofia oriental, não havia uma verdade absoluta, mas várias verdades que se misturavam caleidoscopicamente. Tudo existia e não existia. [QUE VIAGEM! VÃO ACHAR QUE ESTOU CHAPADO] “Tudo isto aconteceu, mais ou menos”, diz o narrador no início de Matadouro 5, de Kurt Vonnegut Jr., uma mistura de sátira política, ficção científica e psicodelismo pop.

Kurt Vonnegut em 1972 – Foto: WNET-TV / PBS / eBay via Wikimedia Commons / Domínio público

No Brasil essa mistura fazia todo o sentido. No país do sincretismo e da deglutição antropofágica não foi difícil passar a mascar o chiclete com banana da contracultura tupiniquim. O Modernismo de Oswald de Andrade, redivivo, caía como uma luva às dissonâncias do rock and roll. Caberia ao Tropicalismo, de Caetano & Gil, fazer a ponte entre os dois. [ESCOLHER UMA MÚSICA TROPICALISTA, QUALQUER UMA, MENOS “CORAÇÃO MATERNO”]

Antes do Tropicalismo, no entanto, bem lá no início da década, o romance de um jovem, que curiosamente depois se tornaria um dos grandes músicos populares do país, já vinha fazendo essa leitura. Trata-se de Deus da chuva e da morte, de Jorge Mautner, ganhador do Prêmio Jabuti de 1962. Nele, o futuro autor de clássicos da MPB, como “Maracatu atômico” e “O vampiro”, empreende uma aventura existencial, ao longo de mais de 300 páginas, e sem nenhum enredo, por entre o que ele mesmo denominou de a sua “visão beat-hip-pagã-trágica-delirante do mundo”. [SERÁ QUE VÃO ENTENDER ISSO? NEM EU ENTENDO… HAHAHA!]

Harper Lee – Foto: Eric Draper via Wikimedia Commons / Domínio público

Algum tempo depois, um outro “delirante” lançaria um livro que cairia ainda mais no gosto tropicalista, sendo inclusive considerado como um dos precursores literários do movimento. Publicado em 1967, Panamérica, de José Agrippino de Paula, foi saudado pelo físico Mario Schenberg como uma epopeia contemporânea. No romance, grandes ídolos da cultura pop internacional se relacionam com personagens da história recente do Brasil criando uma espécie de mitologia do século XX. [PROCURAR UM BOM TRECHO DO LIVRO PARA LER, SE BOBEAR, UM DE SACANAGEM COM A MARILYN MONROE]

Na década seguinte, Caetano Veloso o homenagearia na canção “Sampa” [E AGORA, CANTO OU DECLAMO? VOU DECIDIR NA HORA]: “Panaméricas de Áfricas utópicas/ Do mundo do samba/ Mais possível novo quilombo de Zumbi”. Mas aí já eram os anos 70.

Foi uma honra conversar com as senhoras [E OS SENHORES]. Obrigado e ótima tarde a todos. [SE RESTAREM MENOS DE QUINZE PESSOAS, TROCAR “HONRA” POR “PRAZER”; SE MENOS DE DEZ, DIZER APENAS “OBRIGADO E BOA TARDE”; PRA MENOS DE CINCO, E ESTANDO TODOS ACORDADOS, UM ACENO COM A MÃO É O QUE BASTA]

 

 


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