



O seminário foi realizado nos dias 26, 27 e 28 de novembro de 2024, reunindo acadêmicos palestinos de renome internacional – Ahmad Sa’di (professor visitante em Columbia), Shahd Safi (jornalista sobrevivente do genocídio em Gaza), Rula Shadid (advogada de direitos humanos) e Tariq Dana (Universidade de Doha) – junto a acadêmicos e intelectuais de primeira linha no cenário nacional, atestando o nível internacional e de excelência da nossa pesquisa local sobre a questão. Estiveram presentes membros de diversas instituições brasileiras acadêmicas (Universidade de Brasília, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, Universidade Federal de Sergipe, Universidade Federal de São Paulo e do ABC) e culturais (Vozes Judaicas pela Libertação, Opera Mundi, Instituto Conhecimento Liberta). Referimo-nos apenas aos que compuseram as mesas, mas contamos também com a presença de vários colegas que compareceram a fim de assistir e debater os temas propostos, conferindo prestígio e relevância ao nosso evento.
O seminário debateu a história das relações árabe-judaicas, antes e depois da criação do Estado de Israel; a instrumentalização do antissemitismo como tentativa de silenciamento das vozes críticas à política israelense; as vias da resistência não-violenta e o papel da comunidade internacional em apoiar semelhante resistência; a regionalização cada vez maior da guerra no Oriente Médio, com os enormes riscos de uma deflagração mundial e uma guerra nuclear avassaladora; a obrigação, no cerne disso tudo, da comunidade internacional em parar o genocídio e seu rotundo e preocupante fracasso, fruto de uma deplorável ausência de decisões políticas nesse sentido. Diante do genocídio perpetrado em nome de um Estado que se autodefine como judeu, colocamo-nos o desafio de pensar como combater, este sim, o verdadeiro e criminoso ódio antissemita.
No último dia do seminário, o auditório parou para ouvir uma sobrevivente do genocídio, Shad Safi, que relatou sua vida na Faixa de Gaza e recitou um poema sensível e inédito, de sua autoria, sobre a esperança. Que sejam ouvidas as suas palavras doces e sensíveis por cima dos escombros do ódio e da indiferença arrogante de uma política internacional que se recusa a ouvir a voz palestina. Celebramos ter conseguido trazer vozes palestinas e vozes judaicas tão díspares como as de Gaza e da Palestina ocupada, tanto da Cisjordânia como de Jerusalém, tanto de Qaqun como da diáspora. Não é demais dizer que, em um primeiro congresso, não conseguimos trazer todas as vozes palestinas que o CEPal gostaria de agregar. No próprio cenário do estado de São Paulo, houve muitos que, embora ausentes por motivos de força maior, partilharam seus sentimentos de apoio para com nossa iniciativa. Assim, visando a uma divulgação mais ampla das apresentações do evento, elas serão publicadas em vídeos no site do CEPal.
Cabe uma palavra especial à comissão organizadora do evento, cuja engajada e cativante presença foi sentida por todos em cada detalhe daqueles três dias. Foi composta sobretudo de estudantes, de graduação e de pós-graduação, bolsistas e voluntários, que se empenharam imensamente para que tudo funcionasse a contento. Em ordem alfabética: Alexandre T., Aminah H., Clara B., Laura B., Lissa M., Luisa T., Mariana M. B. e Vitória P. B.
O diretor da FFLCH, professor Adrián Fanjul, abriu o seminário, tendo-o apoiado desde o primeiro momento da sua gestão. Seu apoio reflete também o da Congregação da FFLCH, que tem incentivado as ações do CEPal em tudo o que lhe concerne. É visível também a atuação do Conselho Acadêmico do CEPal, o que evidencia uma gestão compartilhada, coletiva e solidária, notável em um Centro de Estudos de tamanha importância. Além disso, e apesar de sua curta existência, o CEPal tem já imantado parceiros, sem os quais esse seminário não teria sido possível (certamente não com o destaque que juntos atingiram): Common Action Forum, Gecipuc, Anpuh SP, Opera Mundi, Monitor do Oriente e Rede Universitária de Solidariedade com o Povo Palestino. É impossível subestimar, ainda, o papel da curadoria: formada por Bruno Huberman (PUC-SP), Everaldo Andrade (USP), Muna Odeh (UnB) e pela diretora do CEPal, Arlene Clemesha, foi esta a responsável pelo programa, pelas mesas e pelo nome de cada convidado, marcando o fim de um ano tão difícil para o povo palestino e, ao menos, nos deixando a convicção de que a academia, o corpo acadêmico brasileiro, não está indolente, nem irá compactuar com a gravíssima violação de direitos humanos ainda em curso na Palestina e no Oriente Médio. Importa, por fim, chamar a atenção para o fato de que, simultaneamente a este seminário, ocorreram vários outros focalizando a causa palestina, todos com público assíduo. Tudo isso nos leva a concluir que estamos, todos, horrorizados diante do genocídio em curso.
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