


Se um acontecimento de tal magnitude e importância trouxe luz à comunidade universitária, pouco tempo depois começaram a surgir notícias preocupantes. Há algumas semanas, circulou a informação de que o orçamento das três universidades estaduais seria empregado para também financiar outras instituições de ensino superior. Neste hipotético cenário, USP, Unicamp e Unesp teriam orçamento menor e, possivelmente, insuficiente para suprir as necessidades. As manifestações de repúdio ao projeto surgiram de imediato e este foi arquivado logo após seu lançamento.
Há poucos dias, a comunidade científica paulista recebeu outro golpe. A preocupação teve início por conta do texto da LDO para 2025, enviado à Alesp na semana passada, e no qual se propõem cortes no orçamento da Fapesp. Trata-se de agência de fomento à pesquisa que há décadas cumpre uma tarefa exemplar na condução da produção de conhecimento e tecnologia em São Paulo. A redução de recursos causaria inestimáveis prejuízos à ciência paulista e brasileira, com impactos previsíveis a curto e a médio prazo.
Em ambos os casos, trata-se de uma afronta à constituição e aos princípios da autonomia universitária, um dos pilares que sustentam a Fapesp e as universidades públicas paulistas e que tornam as instituições tão relevantes. Exemplo do papel vital exercido pela ciência consiste no combate à recente pandemia. Portanto, verbas empenhadas na formação de recursos humanos altamente qualificados, geração de tecnologia de ponta e desenvolvimento de pesquisas na fronteira do conhecimento devem ser tratadas como investimento para o futuro e o bem-estar da sociedade. Cumpre lembrar que instituições sólidas e reputadas como a Fapesp requerem planejamento de longo prazo, o que inclui financiamento adequado e previsível, além de apoio político. Somente desta forma as políticas científicas e tecnológicas podem ser organizadas e implementadas de modo eficiente e consistente.
Os indicadores de avaliação têm demonstrado que, comparando-se com outros Estados brasileiros, São Paulo não apresenta desempenho na educação básica proporcional à vultosa arrecadação de impostos. Situação diferente é observada no caso das universidades estaduais paulistas, que têm sido destaque nos rankings internacionais por terem forte apoio da Fapesp e exercido responsavelmente a autonomia outorgada constitucionalmente, sem interferências externas.
Assim, no que diz respeito à educação, talvez o Governo cumprisse melhor seu papel agindo de forma positiva para a melhoria do ensino básico, em vez de intervir no ensino superior.
_______________
(As opiniões expressas pelos articulistas do Jornal da USP são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem opiniões do veículo nem posições institucionais da Universidade de São Paulo. Acesse aqui nossos parâmetros editoriais para artigos de opinião.)