Caramujo africano é resistente e eliminá-lo não é tarefa das mais fáceis

Segundo Luiz Ricardo Simone, a espécie é invasora e precisa ser exterminada porque pode causar a extinção de várias espécies nativas

 19/12/2024 - Publicado há 3 meses
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Imagem de um caramujo africano gigante
Foto: J.M.Garg – CC BY-SA 4.0 – Wikipedia
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O caramujo africano já invadiu diversas praias do litoral, não só de São Paulo, mas de todo o País. O animal é uma espécie invasora, que está destruindo a diversidade brasileira. Esses moluscos chegaram ao Brasil  na década de 90, com o intuito de substituir o escargot na alimentação humana, bem diferente da história que se convencionou contar, ou seja, que entraram no País pelo porto em convés de navios. O professor do Museu de Zoologia da USP, Luiz Ricardo Simone, médico, biólogo e especialista em moluscos, diz que o paladar difere muito do escargot, por isso não foi aceito. “O escargot é uma espécie europeia de caracol, com um gosto muito diferente”, explica. 

Homem branco, de meia idade, calvo, usando óculos e vestindo camisa azul com listras verticais
Luiz Ricardo Lopes de Simone – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Ao perceber que esses moluscos poderiam trazer doenças à saúde humana – um tipo grave de meningite -, eles foram descartados, tornando-se um problema de saúde pública e sanitária. Em ilhas do Pacífico, por exemplo, ele causou a extinção de várias espécies. O especialista orienta para tocar no animal com luvas, porque a doença é transmitida pelo muco. 

A reprodução desse animal é feita de forma hermafrodita e ele tem a capacidade de se multiplicar em grandes proporções. Seu controle é muito complicado depois que ele é introduzido em um lugar, mas o Estado de São Paulo já tem regras específicas para isso. O número de ovos varia de acordo com o tamanho do bicho. Os caracóis nativos normalmente botam quatro ovos, diferentemente dos africanos, que produzem até 400 ovos encubados dentro deles. 

O extermínio desse tipo de espécie deve ser feito com coleta e descarte em local indicado pela Vigilância Sanitária ou por um centro de controle de animais para ser incinerado. A incineração é a forma mais adequada de eliminar o caramujo africano, porém, esse processo é muito caro, então o afogamento é a forma mais efetiva e barata. “O ser humano consegue exterminar qualquer coisa. Enterrar, pisar ou  esmagar não mata o caracol africano. A alternativa é colocar ele em sacos e jogar em alto mar. Após seis horas viram comida de peixe”, orienta Simone. 

Cuidados na coleta

O cuidado que deve se ter é com a coleta, para evitar de pegar, por engano, o caracol nativo do Brasil. O caramujo africano já toma conta de todo o território brasileiro, de norte a sul e até no interior, e não apenas nas regiões litorâneas, como se imaginava.

“Só que ele é um animal de calor, como é africano ele não vai muito para os Estados do sul. Então os Estados do sul são praticamente isentos, assim como Argentina e Uruguai, por exemplo, onde não existem, mas tem outras espécies, as europeias, mas a africana praticamente não tem. Eles podem aparecer no verão, mas não sobrevivem no inverno, mas do Estado de São Paulo para o norte não tem nenhum Estado que não tenha infestação desse animal”, afirma o professor. 

“A região mais propensa à infestação é a região mais quente. Como ele é africano, é de uma região quente, mas ele se adapta praticamente a todo o ambiente, desde florestais, ambiente de restinga, até  mesmo semidesértico, como catinga, ele sobrevive a tudo. É um animal muito resistente, aguenta períodos sem água, aguenta enchente até mesmo perto do mar, inclusive o caracol africano já foi visto pastando na maré baixa, nas algas. Então é um animal terrível, é muito resistente, muito adaptável, come de tudo e ataca todos os tipos de plantação.” Por causa disso, as espécies de moluscos nativas brasileiras estão sob séria ameaça de extinção.


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