Poder público precisa agir contra os efeitos das mudanças climáticas

Para Nabil Bonduki, a Prefeitura precisa ser rigorosa na aprovação de novos empreendimentos imobiliários, não autorizando a supressão de vegetação nativa e não permitindo a ocupação de APPs, entre outras medidas de igual importância

 16/03/2023 - Publicado há 1 ano

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Sai ano, entra ano e o cenário se repete: as chuvas de verão, além das corriqueiras inundações, provocam alagamentos, deslizamentos de encostas e muitas mortes nas capitais e cidades do País. Para o professor Nabil Bonduki, já passou da hora do poder público tratar da questão das mudanças climáticas com a seriedade, urgência e emergência que o tema requer. “É necessário adaptar as cidades para as mudanças climáticas e mitigar os efeitos dos eventos extremos, que vão ocorrer cada vez com maior intensidade e frequência. Muito pouco tem sido feito em relação a isso pelos três níveis de governo, e as consequências estão visíveis a cada nova tragédia que ceifa vidas submersas sob as águas ou atingidas por deslizamentos de terra ou desabamento de edificações.”

Dias atrás, a enchente e a morte ocorreram em Moema, um dos bairros com os melhores índices de qualidade de vida e indicadores sociais e urbanos de São Paulo e do Brasil. “Como tudo que acontece nos bairros chiques choca e repercute mais nos meios de comunicação do que o que ocorre na periferia, talvez isso tenha sido providencial para que se amplie a consciência da necessidade e urgência de se elaborar e implementar o Plano de Redução de Riscos previsto no Plano Diretor Estratégico de São Paulo, mas que, quase nove anos após sua aprovação, ainda não foi elaborado pela Prefeitura.” Para o colunista, é necessário mudar radicalmente o modelo de desenvolvimento urbano do século 20, que priorizou o automóvel, desprezou o meio físico, impermeabilizou o solo, os fundos de vale e as Áreas de Proteção Permanentes (APPs), entre outras ações que tornaram a cidade insustentável. “Mesmo que sejamos bem-sucedidos no esforço global voltado para reduzir as emissões de gazes de efeito estufa, os eventos extremos continuarão cada vez mais graves ao longo do século 21, o que requer medidas que preparem as cidades para chuvas mais intensas e frequentes.”

Bonduki vai além e recomenda a implementação de obras de prevenção ao risco, como contenção de encostas nas favelas e produção da moradia para famílias que vivem em áreas impróprias. “É necessário criar sistemas de alerta que informem as pessoas da ocorrência de eventos, isso é emergencial, mas, estruturalmente, é necessário aumentar drasticamente a permeabilidade do solo e a arborização urbana, para reter as aguas pluviais e evitar que elas cheguem muito rapidamente no sistema de drenagem, que já não resiste a chuvas muito intensas.” E mais: “A Prefeitura precisa ser rigorosa na aprovação de novos empreendimentos imobiliários, não autorizando a supressão de vegetação nativa, não permitindo a ocupação das APPs, obrigando a implantação de tanque de retenção e reúso da água e limitando a implantação de subsolos que afetem as águas subterrâneas. Isso é urgente se quisermos reduzir os efeitos das chuvas, que serão cada vez mais intensas”, finaliza o colunista.


Cotidiano na Metrópole
A coluna Cotidiano na Metrópole, com o professor Nabil Bonduki, vai ao ar quinzenalmente às quinta-feira às 9h00, na Rádio  USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção a Rádio USP,  Jornal da USP e  TV USP.

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