A nova Classificação Internacional de Doenças feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a síndrome de Burnout como uma doença diferente da depressão ou da ansiedade. A nova categorização entra em vigor apenas em 2022, mas serve como um alerta para a relação entre saúde mental e trabalho.
O esgotamento profissional foi cunhado com o termo “Burnout”, nos anos 80, por um psicanalista americano. Desde então, novos estudos foram feitos para tentar entender os danos à saúde mental causados por uma longa exposição a uma condição ou ambiente de trabalho estressante. O Jornal da USP no Ar conversou sobre o assunto com o doutor Rodrigo Leite, coordenador dos Ambulatórios do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
O especialista indica que existem vários fatores que podem, a longo prazo, causar a síndrome, porém, a questão profissional tem um peso maior. “Muitos fatores podem gerar os sintomas da doença, mas o trabalho é preponderante, porque as pessoas são expostas cronicamente a dificuldades de relacionamento com colegas e chefia e risco de demissão iminente, por exemplo. O contato humano diário, comum nas áreas da saúde e educação, também é algo estressante, e as pessoas expostas, anos a fio, a essas condições são mais prováveis de desenvolver esse problema”, explica.
Os principais sintomas da doença são constante desânimo, crises de pânico, choro fácil, tonturas, dor de cabeça e similaridades com quadros de depressão e transtorno de ansiedade generalizada. O diagnóstico não é fácil e os tratamentos vão além de medicamentos e acompanhamento psicológico. Segundo Leite, as características da síndrome se tornam também uma questão trabalhista e de saúde pública, chamando atenção para as condições de trabalho da atualidade.
O coordenador dos ambulatórios do IPq também ressalta que será necessária a criação de políticas públicas de reinserção de pacientes no mercado de trabalho, para que eles não sejam ainda mais prejudicados por conta da síndrome. Ele frisa que a solução desse problema é coletiva, e que a discussão sobre as relações de trabalho são essenciais para que se saiba lidar com a doença.
Além disso, as intervenções médicas não são suficientes se não forem acompanhadas de uma mudança de vida, que podem significar afastamentos ou redirecionamento da carreira, por exemplo. O doutor explica: “Estudos indicam medicação, psicoterapia, alguns até falam da importância da atividade física. Eu acho que o tratamento do Burnout, na verdade, também é voltado à saúde de forma mais ampla, incluindo mudanças de hábitos, como passar a fazer exercícios físicos, parar de fumar, parar de beber… É todo um plano voltado à recuperação do indivíduo, um tratamento multifatorial.”
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